Um caminho de afetividades, de vazios no peito, de laços e perdas, de amor

por: Daniela DinizBlog do Noblat – 7/6/2013

O mundo ficou às voltas com a tentativa de suicídio de Paris Jackson, filha do falecido Rei do Pop. Quando se fala em autoextermínio na mídia, ou até mesmo entre as pessoas, o fato é tratado como uma exceção, uma anomalia, um espanto.

O que ninguém fala é que a Organização Mundial de Saúde reconhece que 1 em cada 3 pessoas já pensou em se matar. E que a população mais afetada é de 15 a 35 anos. Paris Jackson simplesmente faz parte de uma média mundial, e silenciosa.

Enquanto se anunciava a hospitalização de Paris nessa quarta-feira, dia 05, eu estava no cinema a ver Elena. Documentário da trajetória da bela Elena, que morreu aos 20 anos. O filme é lindamente costurado pela diretora e irmã Petra Costa e sua mãe, ambas sobreviventes. Sim, sobreviventes.

Esse é o termo técnico utilizado na literatura especializada para os familiares e pessoas muito próximas daqueles que levaram o autoextermínio a cabo. Continuar em frente, quando a vida deixou de fazer sentido para aquele(a) que tanto se amava, é uma luta a ser travada e sobrevivida.

Elena não busca justificar ou explicar porque as coisas aconteceram… Ela traça um caminho de afetividades, de vazios no peito, de laços e perdas, de amor. Imagens antigas, novas, granuladas, gravações em fita cassete, relatórios médicos.

Tudo serve de material para reconstrução de memórias quase perdidas no tempo. A tentativa de encontrar na poesia da imagem um conforto, uma despedida, uma resolução para uma vida suspensa pelas mãos. As próprias mãos.

Muitos, ao lerem a notícia sobre Paris Jackson, se perguntaram: Mas por quê?

Menina bonita, rica, jovem. Alguns pensaram na ausência do pai, outros nos muitos processos que ela agora é testemunha, poucos ainda pensaram na conjuntura estranha que mantém essa família unida.

Será que alguém pensou no vazio que é nascer com tudo nas mãos? Sem necessidade de esforço e conquista?

Será que lembraram como é extenuante ser fotografada e publicada desde o primeiro choro? Será que alguém pensou na angústia que é não ter identidade própria diante do mundo? Ser sempre “a filha de alguém”? O desespero de ter um referencial paterno tão alto, que parece impossível ultrapassá-lo?

Com quinze anos pode, sim, parecer que o mundo não terá mais nada a lhe oferecer. E que viver… Bem, o que é valer a pena?

Por isso a beleza de Elena.

No meio de tantas dores, uma mão para trazer as nossas Ofélias das águas. Talvez não encontremos respostas para o que acontece aos que amamos nesse parco tempo que nos é dado na terra. E Petra Costa encontrou no documentário um caminho para não precisar delas.

A partir de amanhã, Elena terá apenas uma sessão na Capital Federal, no Cinema do Itaú Cultural, até a próxima quinta. Depois… não sabemos se ela fica.

Quem ainda não viu, recomendo que se apresse! No mais, está em cartaz em outras 11 cidades do Brasil, com programação disponível no site oficial do filme.

Já Paris, deve sair do hospital em breve. Espero que ela encontre apoio profissional especializado, amor e compreensão.

É o que também desejo para os tantos outros jovens pelo mundo que precisam de igual apoio. E que fiquem todos entre nós.

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