“Diretora de ELENA cita sonho como 1º passo para filme sobre irmã”
8 de maio de 2013

Matéria do UOL fala desde a concepção de ELENA até o vídeo “Quem é Elena?”, feito para o lançamento do filme.

Desde sete até 21 anos de idade, a diretora mineira Petra Costa pensou sobre Elena, sua irmã que morreu nos Estados Unidos em 1990. Depois de terapias e sonhos sobre a irmã, tida como uma figura quase lendária em suas memórias de criança, a cineasta amadureceu e reuniu suas reflexões no documentário “Elena”, que estreia no circuito nacional nesta sexta-feira (10). O longa recebeu o prêmio do júri popular no Festival de Brasília de 2012.

O projeto demorou três anos para passar de um sonho incômodo que Petra teve aos 26 anos até ser completado. “Vi minha irmã emaranhada entre fios elétricos, daí eu tentava chegar perto e via que era eu quem estava lá e morria. Eu acordava superperturbada, com a sensação de que era verdade”, relembra Petra, hoje com 29 anos.

À época, a cineasta escrevia um roteiro para outro filme, no qual duas identidades se confundiam, mas aproveitou a oportunidade para consolidar sua infância e adolescência de pensamentos sobre Elena. “Eu fui transformando aos poucos nesse filme, que tem duas irmãs que se misturam.”

“Elena” fala sobre a história da jovem de 20 anos que foi a Nova York para tentar ser atriz. Mas ainda que o filme receba só o nome da irmã, o universo nele abordado é também o da própria diretora e de sua mãe.

Para traçar o perfil de sua íntima personagem, Petra decidiu ir além das lembranças que tinha e passou a pesquisar sobre a irmã, desvendando desde a vida amorosa até o gosto por dirigir filmes caseiros de terror que Elena tinha.

O resultado foi uma espécie de carta falada, de Petra para a irmã mais velha, que cuidava da diretora quando criança e a ensinava as primeiras coisas na vida. “Fui para Nova York com a agenda de telefone dela, procurei todos os amigos de 1990, entrevistei 50 pessoas, ouvi todo o material de arquivo, li o diário, deixei me possuir por tudo isso”, enumera Petra.

Ao descobrir mais sobre a irmã de quem lembrava apenas “umas seis memórias”, Petra se surpreendeu com o número de pessoas que admiravam Elena. “Muita gente conviveu um só ano com ela e mesmo assim se lembram de memórias sobre a minha irmã mesmo depois de 20 anos”, diz a diretora.

“Diversas pessoas pensavam em fazer filme sobre ela, o Alexandre Borges tinha escrito uma peça sobre ela”, diz Petra sobre o ator, um dos artistas que participa do vídeo de divulgação do filme, que reúne nomes como Wagner Moura, Letícia Sabatella e Julia Lemmertz.

Mas para Petra, mais difícil do que falar sobre a vida e morte da irmã foi colocar seu próprio corpo e sua alma no documentário. “Eu tinha feito o filme inteiro até a morte dela. Aí me desafiaram. A roteirista, a Carolina Ziskind, me disse: agora a gente tem que falar de você”, conta Petra. “Mas era muito difícil, precisei de ajuda. A montadora me entrevistou durante três horas. Demorou seis meses para parir e tudo esteve por um fio, quase não rolou.”

Outro momento que quase não entrou na edição final foi uma série de cenas gravadas no litoral paulista, com dançarinas flutuando em um rio. “Foi a primeira imagem que tive quando decidi fazer o filme. É a imagem que o sintetiza”, afirma a diretora, que se inspirou nas representações da personagem Ofélia, de Shakespeare, para bolar a imagem.

Passadas as dificuldades, Petra guarda a recepção das pessoas que já viram o documentário e recebe um pouco mais do que os comentários comuns sobre filmes. A maior parte daqueles que dela se aproximam contam a respeito de suas próprias experiências, vividas com familiares ou amigos.

“Não tem uma sessão que não tenha alguém com os olhos cheios de lágrimas para falar comigo”, afirma a diretora, que deseja reunir contos, poemas e músicas das histórias inconsoláveis dos espectadores. “Meu objetivo é fazer com que as pessoas descubram suas próprias ‘Elenas’ e procurem contas suas histórias, da mesma maneira artística que fiz.”

 



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