ELENA no A Tarde (Salvador)
20 de maio de 2013

Autorretrato, por Thiana Biondo

(A Tarde, Salvador – 17 de maio de 2013)

Mergulhar na  dor para retornar à superfície, tomar fôlego e seguir adiante. Esta foi a trajetória emocional que a diretora Petra Costa, 29, percorreu para realizar  Elena. Elogiado pelos cineastas Fernando Meireles e Walter Salles e ganhador de quatro prêmios, na categoria documentário, no último Festival de Brasília (direção, montagem, direção de arte e melhor filme pelo júri popular), o longa não é apenas sobre a vida e o suicídio da irmã de Petra, a atriz Elena Andrade, que se matou aos 20 anos em Nova York, em 1990, mas é também sobre a mãe das duas.

Em passagem por Salvador, onde veio participar do lançamento baiano de Elena, a diretora conversou com Muito, nos jardins do Hotel Catharina Paraguaçu, no Rio Vermelho, sobre o processo de criação do documentário, que recebeu ainda duas menções honrosas, no 28º Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, no México, e  no 9º Festival Internacional de Documentários ZagrebDox, na Croácia, além de vencer, na categoria documentário, o Films de Femmes 2013, na França.  “Fui no trauma, mas fui  devagar. Essa é a imagem da água. Pouco a pouco, as dores viram água. Fui tateando, tendo um tempo de respiro, porque aí a dor vai dissolvendo”.

Em Elena, mulheres imersas nas águas de um rio vão descendo a correnteza. São muitas Ofélias, que, tal como a noiva suicida de Hamlet, de William Shakespeare, vivem o conflito de ter um desejo não apropriado. No filme, Petra pontua a história da mãe, que pertencia a uma família tradicional de Minas Gerais e quis se integrar à luta estudantil contra a ditadura; e da irmã, que quis ser atriz de cinema no final dos anos 1980 e, diante de um Brasil sem perspectivas, partiu para os Estados Unidos.

“São quebras fundamentais com o ambiente em que se nasceu que geram revoluções internas e externas. Se você quer ser apropriada e amada, tudo fica um pouco mais difícil, porque é radical, né?”, comenta a diretora. Ao narrar a história de mulheres que vivenciam a contradição de querer algo que não é conveniente ou possível, Petra relata dramas universais do mundo feminino. Para a diretora, é algo também muito similar ao conto infantil  da Pequena Sereia, que por querer ganhar pernas por um dia teve que perder a voz e morrer.

 



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