ELENA no Brasil Econômico
10 de maio de 2013
Leia, abaixo, a resenha publicada hoje (10.05) no jornal Brasil Econômico
Depois que assisti a peça ‘Mundo dos Esquecidos’, saí pensando em como não deixar ‘Elena’ caísse no esquecimento”. A peça de Adriana Falcão versava sobre os caminhos labirínticos da memória. E foi desfiando o novelo das lembranças que Petra Costa deu início aso trabalhos de roteirização e direção de seu primeiro longametragem. Trata-se de ‘Elena’, um filme sobre a perda e o impacto causado na diretora pela ausência da irmã – a quem ela chama de sua ‘memória inconsolável’. Vencedor dos prêmios de melhor direção, melhor direção de arte e melhor montagem no 45 Festival de Brasília e melhor documentário no 35 Festival Internacional de Films de Femmes (França), ‘Elena’ entra hoje em cartaz, nas capitais do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Belo Horizonte.
A personagem principal, que dá nome ao filme, é a irmã mais velha de Petra. Elena, que decidiu com apenas 13 anos ser atriz, estudou teatro durante cinco anos em companhias paulistanas , além de participar de testes para filmes e trabalhos na televisão – sem sucesso. No início dos anos 1990, com 20 anos, ela se muda para Nova York, a fim de cursar artes cênicas e batalhar uma chance no mercado americano.
A escolha pela metrópole é justificada pelo histórico familiar. O pai delas também embarcou para Nova York quando vem e relatava a experiência com carinho. “Ela tinha o sonho de ser atriz de cinema, e Nova York era uma opção desejada na época. Além da história de meu pai, vários de seus colegas estavam por lá. Inclusive o ator Fernando Alves Pinto”.
Ao contrário das expectativas, a cidade não foi um lugar acolhedor para a jovem atriz. Elena ficou deslocada e frustrada após uma sequência de testes de elenco mal sucedidos. Decepcionada com a falta de reconhecimento, ela entrou em depressão, que só aumentava com os repetidos reverses.
“Minha irmã ficou sozinha, em um país diferente, num meio extremamente competitivo. Isso tudo foi se acumulando e a deixando mais e mais triste”, relata a diretora. O fato de ser estrangeira e ter sotaque também foi um fator negativo para a jovem. “Os papéis eram muito restritos . É muito difícil se inserir no universo artístico norte-americano como ator e mais ainda como diretor”, completa Petra.
O filme também diz sobre o Brasil dos anos 80, os resquícios da ditadura militar e a geração da “década perdida”, acusada de não ter bandeiras ou ideais. Petra consegue misturar dados documentais da época e impressões psicológicas muito íntimas, com um custo de produção de cerca de R$ 1 milhão. Mas os projetos de Petra não param por aí. A diretora está organizando um concurso para pessoas de todo o país enviarem fotos de suas “memórias inconsoláveis”. “Vamos premiar os escolhidos e fazer um livro com o material”, diz.
Se eu pudesse presentear Petra em agradecimento ao filme, oferecia para ela as memórias mágicas dos meus sete anos.