Petra Costa fala a Harper’s Bazaar
26 de abril de 2013
A edição de maio da revista Harper’s Bazaar chega hoje às bancas com um depoimento da diretora de ELENA. Petra Costa fala sobre sonhos, sentimentos e razões que a levaram a fazer o filme.
Leia, abaixo, um trecho do depoimento:
“Em julho de 2009, estava morando no Rio, trabalhando com cinema e há muito tempo sem pensar em Elena. Até que, um dia, acordei no susto daquele sonho. Sem saber se era eu ou se era ela. O sonho trouxe de volta a memória do filme prometido sobre Elena. Percebi que precisava saber mais sobre minha irmã para poder me lembrar melhor dela. Precisava saber tudo que fosse capaz de descobrir sobre ela. Busquei seus amigos do teatro e da dança: Fernando Alves Pinto, Alexandre Borges, Ângelo Antônio, Leal Baiolin, Letícia Teixeira, Rosana Seligmann, Gabriela Rodella e muitos outros. Para minha surpresa, depois de 20 anos, a memória dela seguia viva em cada um deles.
Voltei para Nova York com a agenda de telefones que Elena usava em 1989 e fui buscando todos os seus amigos, na internet, na lista telefônica. Busquei suas cartas, seus desenhos, suas fotos. Encontrei horas e horas de fitas cassete e de VHS e, por meio de cada uma dessas pessoas e coisas, Elena foi tomando forma, tomando corpo. Durante um ano, quase todos os meses, ela aparecia em sonhos. No primeiro foi a imagem de sua morte. No segundo, Elena se cortava e eu começava a entender sua dor. No terceiro, eu cozinhava sua dor numa panela até ela evaporar. No quarto, eu sobrevoava uma floresta e, num cantinho de mata, via a alegria de Elena, que era laranja, da cor das árvores no outono. No quinto e último sonho, eu, menina, dançava em volta de sua cintura.
Já faz um ano que não sonho com Elena. Sinto, hoje, que, por meio do tempo e da alquimia entre imagem e som, as dores viraram água, viraram memória… viraram cinema. Na tela, Elena descansa. E dança.”
Se eu pudesse presentear Petra em agradecimento ao filme, oferecia para ela as memórias mágicas dos meus sete anos.