Este conteúdo foi elaborado em parceria com o Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio.
ELENA é uma história sobre a perda de alguém querido e o resgate dessa memória por Petra Costa – diretora do filme e irmã mais nova de Elena –, para transformar a perda inconsolável em elaboração do luto e celebração à vida.
Elena é uma jovem atriz de teatro do famoso grupo Boi Voador que, na segunda metade dos anos 1980, ruma para Nova York em busca do sonho de ser estrela de cinema e vive um fim trágico: entra no espiral da depressão e se suicida.
O suicídio é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma das prioridades globais de Saúde Pública, devido ao grande número de casos e a expectativa de aumento nos próximos anos. A prevenção e a posvenção do suicídio são tarefas complexas, pois abrangem muitos processos: desde o desenvolvimento de políticas públicas e pesquisas sobre o tema, conscientização e instrumentação de trabalhadores da área da saúde, até a ação local em escolas, organizações sociais e postos de saúde no sentido de garantir condições e ambiente para o diálogo e acolhimento à pessoa que está pensando em se matar, que já tentou, e o sobrevivente após o suicídio de alguém amado.
Por sua temática e delicadeza, ELENA pode facilitar conversas sobre o assunto, assim como sobre outros temas relacionados à saúde mental.
Conhecer para prevenir
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é responsável por 26 mortes diárias no Brasil, ou seja, uma por hora, e três mil no mundo todo, além de 60 mil tentativas. Apesar da relevância e da incidência, levantamentos da OMS indicam que o problema é negligenciado. Dentre os aspectos relevantes, chamamos atenção para três deles, que serão tratados com maior profundidade nos eixos de discussão mais abaixo.
O primeiro aspecto diz respeito ao estigma sobre o assunto e à necessidade de se compartilhar informações e derrubar tabus ao redor do suicídio. A prevenção torna-se bem-sucedida quando as pessoas conhecem melhor o problema. É essencial trabalhar os preconceitos e conferir alguns dados básicos sobre o tema. Todos podem ser agentes de transformação dessa triste realidade.
Esse aspecto também engloba a prevenção do suicídio entre jovens, já que nos últimos 50 anos, em todo o mundo, há um deslocamento do pico das taxas de suicídio para essa faixa etária.
No Brasil, o suicídio é a terceira causa de morte de jovens entre 15 e 35 anos, ficando atrás somente dos homicídios e acidentes de trânsito. E, infelizmente, os números não param de crescer, sinalizando que algo específico precisa ser feito. Nesse sentido, é desejável promover espaços seguros e acolhedores de diálogo sobre o assunto junto a grupos de jovens. Esses espaços devem ser pensados e acessados, especialmente, em casos de ocorrência de suicídio completo ou tentativa na escola, por exemplo.
O segundo aspecto diz respeito a outros temas da saúde mental considerados relevantes na prevenção ao suicídio. Certos transtornos mentais – tais como depressão, alcoolismo, esquizofrenia – são fatores predisponentes de comportamentos suicidas,mas muitas vezes não são detectados ou não são adequadamente tratados. Informar a população sobre como identificar uma doença mental, os tratamentos disponíveis, sua efetividade, e onde obter apoio emocional torna possível que muitas pessoas procurem assistência, o que, em último caso, pode prevenir um suicídio.
O terceiro aspecto diz respeito ao luto por suicídio, ao apoio aos sobreviventes e às atividades de posvenção.
É importante destacar que esses três aspectos são apresentados aqui de forma separada apenas com fins didáticos e para facilitar a reflexão, pois na prática são interrelacionados e inseparáveis, podendo também ser trabalhados em sequência. Combater tabus e preconceitos ao redor do suicídio promove e facilita o apoio à saúde mental e à prevenção do suicídio, além de proporcionar informação e acolhimento aos sobreviventes.
Assim, os temas suscitados pelo filme ELENA, bem com a exibição de trechos e posterior discussão sobre eles, podem:
− Incentivar a criação de espaços acolhedores para o diálogo sobre saúde mentalcom jovens e adolescentes em escolas e organizações sociais.
− Servir de subsídio à educação permanente dos profissionais de saúde de acordo com os princípios da integralidade e da humanização, e conscientizar a sociedade de que o suicídio é um problema de saúde pública e que pode ser prevenido. Uma vez que várias doenças mentais se associam ao suicídio, a detecção precoce e o tratamento apropriado dessas condições são fatores importantes na sua prevenção.
− Sensibilizar as pessoas, diminuir o estigma e facilitar a busca por auxílio especializado sempre que houver suspeita de risco de suicídio ou para as pessoas que estejam passando pelo luto por suicídio.
Acesse os eixos de discussão e os materiais relacionados (trechos do filme, artigos e depoimentos):
Segundo estudo realizado pela Unicamp, 17% dos brasileiros, em algum momento, pensaram seriamente em dar um fim à própria vida e, desses, 4,8% chegaram a elaborar um plano para isso. Pensar em suicídio faz parte da natureza humana. O impulso também é uma reação natural, porém é mais comum nas pessoas que estão exaustas por dentro e emocionalmente fragilizadas diante de situações que despertam possibilidade de suicídio.
Na maioria das vezes, no entanto, é possível evitar que esses pensamentos suicidas se tornem realidade. Falar abertamente sobre o assunto, saber as principais causas e as formas de ajudar pode ser o primeiro passo para reduzir as taxas de suicídio no Brasil. ELENA abre caminhos para uma conversa franca sobre o assunto.
O transtorno mental associado a tentativas prévias é considerado o maior fator de risco para o suicídio. Apesar desses transtornos serem um importante fator de risco, vale lembrar que o suicídio é multifatorial, de modo que nem todo suicídio relaciona-se a uma doença mental, e nem toda pessoa acometida por uma doença mental terá comportamentos suicidas.
O filme nos apresenta momentos em que Elena fala ou demonstra que algo não está bem, que há algo de ruim acontecendo, e esses momentos podem servir de exemplo para observamos alguém potencialmente em risco.
Para cada suicídio consumado, muitas pessoas deixadas para trás precisam lidar com a dor da perda. Essas pessoas são chamadas de sobreviventes. O luto em si é um processo natural e esperado para se lidar com a morte, porém o luto por suicídio tem características e temas específicos que precisam ser trabalhados, como os sentimentos de culpa, vergonha e busca incessante do porquê. Pesquisas demonstram que os efeitos desse luto tendem a ser mais intensos e duradouros.
A escola também tem o dever de acolher e receber devidamente jovens e crianças que estejam vivendo o luto por suicídio ou que já fizeram tentativas de suicídio. Nos casos em que for considerada pertinente, a exibição de trechos do filme ELENA seguida de debate pode auxiliar na sensibilização dos participantes e promover uma discussão saudável sobre as questões levantadas pelos jovens.
Materiais relacionados:
– Prevenção do Suicídio: Um Manual para profissionais da Saúde em Atenção Primária. Documento preparado pela OMS.
– Prevenção do Suicídio: Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental (elaborada pelo Mistério da Saúde e OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde)
– Prevenção do Suicídio: Um Manual para Médicos e Clínicos Gerais. Documento preparado pela OMS.
– Prevenção do Suicídio: Manual para Professores e Educadores. Documento preparado pela OMS.
– Documentário realizado pelo Grupo de Pesquisa de Prevenção de Suicídio da Fiocruz em parceria com a VideoSaúde Distribuidora. Corte para a I Mostra de Documentários em Pesquisa Qualitativa em Saúde.
– Falando Abertamente sobre Suicídio (folheto voltado para jovens e adolescentes elaborado pelo CVV)
– Comportamento suicida: conhecer para prevenir (cartilha para profissionais da imprensa elaborada pela ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria)
– Prevenção do Suicídio. Debate Psiquiatria Hoje. Publicação da Associação Brasileira de Psiquiatria, página 10.
– Centro de Valorização da Vida (organização não governamental que desenvolve programas de Apoio Emocional realizado pelo telefone, chat, e-mil, VoIP, correspondência ou pessoalmente nos postos do CVV em todo o país)
– TROCANDO SEIS POR MEIA DÚZIA – SUICÍDIO COMO EMERGÊNCIA DO Rio de Janeiro, Organização de Carlos Estellita-Lins, 2012, Mauad Editora.
– Debate Folha sobre suicídio
– Suicídio e sua prevenção, O. Bertolote, José Manoel. Ed. UNESP.
– Suicídio, o futuro interrompido. Guia para sobreviventes. Paula Fontanelle, 2008, Geração Editorial.
– Filme Casa dos Mortos. Direção e Roteiro: Débora Diniz
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