“ELENA”, UM DOS MAIS FESTEJADOS FILMES NACIONAIS
6 de junho de 2013

por: Luísa Pécora – Portal Cwb – 6/6/2013

Elogiado por Fernando Meireles e Walter Salles, longa mostra busca da cineasta Petra Costa pela irmã mais velha, de quem se separou aos sete anos

Histórias pessoais claramente inspiram a cineasta mineira Petra Costa, que fez sua estreia nos cinemas com “Olhos de Ressaca”, curta-metragem sobre o casamento de 60 anos de seus avós. No primeiro longa, “Elena”, o mergulho é mais profundo. Desta vez, ela enfrenta a dor de remontar a trajetória da irmã mais velha, que morreu em 1990, aos 20 anos, em Nova York.

A trágica história de Elena resultou em um dos mais belos e delicados documentários da safra nacional recente, que estreia nesta sexta-feira (10) em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador. Aos 29 anos, Costa vai além do álbum de família e cria uma narrativa envolvente e original, de fácil identificação com o público ainda que tão pessoal.

Treze anos mais velha, Elena era quase uma ídola para Petra. Durante a infância, viveu na clandestinidade durante a ditadura militar, por causa da associação à esquerda dos pais, um político e uma jornalista. Adolescente, começou a fazer teatro e a filmar vídeos caseiros, nos quais dançava, cantava e dirigia a irmã mais nova.

O material de arquivo é um dos pontos altos de “Elena”. São vídeos de uma beleza simples, mas capazes de deixar evidente o amor entre as duas irmãs, a importância de uma na formação da outra e o motivo de a separação, quando Petra tinha sete anos, ter sido tão dura.

Para realizar o documentário, a diretora assistiu aos vídeos de Elena, leu seus diários, refez seus passos em Nova York e realizou mais de 50 entrevistas. O que aprendeu está diluído no roteiro, que escreveu em parceria com Carolina Ziskind, e especialmente na narração em off, na qual conta a história da irmã falando diretamente a ela, numa espécie de carta tardia.

Com isso, “Elena” foge das convenções do documentário, distanciando-se dos filmes em que entrevistados falam olhando para a câmera, sentados à mesa com uma estante de livros ao fundo. Imagens assim não cabem em um longa visualmente impecável, no qual luz, fotografia e direção de arte, combinados à narração, dão cara de ficção a uma história real.

Tal sensação é reforçada pelo modo como o roteiro mistura as personagens, fazendo com que seja difícil distinguir Petra de Elena. Mais do que reforçar a identificação entre as irmãs, o recurso faz com que o documentário vá além do relato pessoal e se transforme em um longa sobre qualquer jovem mulher – seus objetivos, angústias, inseguranças e frustrações.

Em todos os momentos nota-se a completa entrega de Costa, que reencontra a irmã para perdê-la uma segunda vez. Mas a dor e a tristeza guardam, enfim, um tom otimista: em uma cena, mulheres se movimentam na água; em outra, uma jovem dança na rua. Mesmo as memórias mais difíceis se dissolvem e a vida segue.



<<< voltar para Notícias