A perda como peça fundamental da memória
28 de maio de 2013

Luiz Joaquim, no FolhaPE – 28/5/2013

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Quando exibido no 45º Festival de Brasília, ano passado, o documentário “Elena”, de Petra Costa, trouxe um tema pesado ao evento. Era, entretan­to, bem referendado por uma estética competente em significar o assunto. O filme é uma busca da diretora Petra pela irmã (cujo nome dá título ao documentário); irmã cer­ca de dez anos mais velha que ela.

Ainda adolescente, Elena vai a Nova Iorque com o so­nho de se tornar atriz de cine­ma, e lá desenvolve uma depres­são aguda. Os desdobramentos são fatais e Petra pare­ce interessada menos nas cau­sas e mais nos efeitos de tu­do isso. É portanto um filme mui­to mais sobre a própria dire­tora e sua mãe, que sobre Elena.

Entremeado por um rico material filmado em vídeo caseiro, registrado pela família, Petra remonta a trajetória de vi­da da irmã até seu momento final nos EUA. O faz numa ten­tativa de desvendar o sentimento que levou Elena a fa­zer o que fez. Por colocar questões tão íntimas da família de forma tão abertas, “Ele­na”, o filme, divide opiniões.

Se por um lado a produção – que durou anos para ser realizada – soa como uma longa terapia em função do trauma de Petra pela perda abrupta e inexplicável da irmã, por outro agrada a alguns espectadores por levá-los a refletir sobre a fragilidade da vida e a necessidade de atentarmos para a ajuda de quem está ao nosso redor.

De qualquer maneira, a produção é extremamente caprichada, particularmente na composição plástica. Esta, arrebatadora. Há, a propósito, no mínimo, uma sequência em es­pecífico que fica na memória – a de corpos boiando, sendo levados pela correnteza de um rio. Da forma como são mostra­dos, e em seu contexto, soa impactante e eloquente pa­­ra falar do modo à deriva pe­­­lo qual estava a cinebiogra­fada na sua pior fase nos EUA.

O filme saiu da competição entre documentários em Brasília com quatro troféus Can­dan­gos – documentário, direção, direção de arte e montagem. Vale regis­trar uma curiosi­dade, a conexão deste novo doc. com a ficção “Memória de Helena”, clássico lindo e absoluto roda­do por David Neves em 1969, pelo qual amigos relembram por filmes Su­per-8 a falecida ami­ga He­lena (Rosa Maria Pena).



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