Alma de vontade ardente
14 de janeiro de 2015
Poucos dias após a morte de Elena, sua mãe, Li An, recebeu um fax de Barbara Fisher Williamson, professora do Eugene Lang College The New School for Liberal Arts, de Nova York.
Na correspondência, além de expressar o seu pesar, a professora fala sobre a personalidade da Elena, o empenho dela nas aulas e do livro que ela estava lendo, Middlemarch, de George Eliot – pseudônimo da escritora britânica Mary Ann Evans (1819-1880), um dos mais importantes romances do século XIX. A obra descreve e analisa o império inglês nos turbulentos anos que antecedem a ascensão da rainha Vitoria.
Uma das personagens principais, Dorothea Brooke, uma idealista, jovem de beleza singular, tem como desejo a aquisição de erudição para escapar da mesmice que o destino reservava para as mulheres de sua época: o casamento com um homem de origem nobre. A professora Barbara lembrou que Dorothea era descrita como uma “alma de vontade ardente” e que Elena parecia identificar-se com a personagem.
Leia, mais abaixo, a tradução da carta:
8 de dezembro de 1990
Cara Lian,
Sua filha, Elena, foi minha aluna neste semestre no Lang College. Em minhas aulas, ela lia literatura inglesa do século XIX, e devo dizer que ela era uma leitora que conseguia compreender o sentido por detrás desses difíceis livros. Quando ela morreu, estava lendo Middlemarch, um belíssimo livro que parecia despertar uma paixão imensa nela. Elena parecia identificar-se com a heroína da história, Dorothea Brooke, que é descrita como uma “alma de vontade ardente”. Elena me parecia uma jovem de inestimável beleza, brilhantismo e paixão.
Devo admitir que é difícil para um professor encontrar um aluno tão engajado e apaixonado quanto Elena. Foi maravilhoso para mim conhece-la pelos poucos meses em que pude dar-lhe aulas.
Eu mal posso imaginar o seu pesar e a dor dessa perda. Desejo-lhe consolo e reconforto e espero que saiba que você criou Elena com um espírito belíssimo.
Barbara Fisher Williamson
“Elena nos faz sentir, nos desacomoda, nos põe no lugar do outro e nos desafia a responder: e agora?” Resenha de Vera Leon – Cineblog/A Tribuna.