Petra Costa, Caetano Veloso e a história da canção Cajuína
14 de junho de 2013

Petra Costa, ainda adolescente, fez uma provocação para o cantor e compositor Caetano Veloso em um programa de TV. A diretora de ELENA quis saber de Caetano o que ele havia achado de uma reportagem publicada em uma revista semanal. O vídeo – enviado à página oficial do filme ELENA no Facebook pelo internauta Diogo Cavalcanti, de Niterói (RJ) – está no YouTube. Trata-se de um registro do Programa Livre, atração apresentada por Serginho Groisman no SBT  entre 1991 e 1999.  Nem mesmo Petra sabia que o arquivo estava na internet.

Além de indagar Caetano sobre a tal reportagem, Petra pede que Caetano explique a história de uma canção que ela não sabia o nome, apenas a letra. Era Cajuína, lançada pelo compositor no álbum Cinema Transcendental, de 1979.

O compositor contou que a letra faz referência a uma visita que, certa vez, fez ao pai do amigo e parceiro musical Torquato Neto, que havia cometido suicídio alguns anos antes.

>> Folha de S. Paulo: Taxa de suicídio cresce no Brasil

Caetano disse que o pai de Torquato lhe serviu uma cajuína, bebida típica do nordeste feita a partir do suco de caju. O compositor afirmou que chorava muito pela falta do amigo. O pai de Torquato, então, foi apanhar uma rosa no jardim a fim de consolá-lo. Assim, nasceu a canção:

Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina 
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina

Capa do disco Cinema Transcendental, de Caetano Veloso

O jornalista, poeta e compositor Torquato Neto (1944-1972) nasceu em Teresina (PI) e se mudou para Salvador ainda adolescente. Na cidade, conheceu Caetano, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e o cineasta Glauber Rocha, de quem foi assistente de direção no filme Barravento (1962).

Em 1972, aos 28 anos, Torquato cometeu suicídio.  Trancou-se no banheiro e abriu os gás. Deixou a mulher, Ana Maria, e o filho Tiago, de apenas dois anos de idade. Um trecho do bilhete que deixou escrito dizia “Pra mim chega!”

Torquato Neto: jornalista, poeta e compositor

Além de Caetano, com quem compôs músicas como Mamãe Coragem, Nenhuma dor e Ai de mim, Copacabana, Torquato teve como parceiros Gilberto Gil (Zabelê, Minha Senhora), Edu Lobo (Pra dizer adeus), Roberto Menescal (Tudo muito azul), entre outros.



<<< voltar para Destaque, Notícias