Petra Costa refaz o caminho de sua atormentada irmã em ELENA
16 de junho de 2014

Resenha escrita por Sheri Linden,  publicada no jornal Los Angeles Times em 12 de junho de 2014

ELENA é um mergulho na “memória inconsolável”, uma frase que a diretora Petra Costa toma emprestada de  “Hiroshima Mon Amour”, de 1959. Como o filme clássico de Alain Resnais, o documentário de Costa é lírico, não linear. Ao contar de sua irmã mais velha, uma atriz e dançarina que se suicidou em 1990, aos 20 anos, Costa entrelaça imagens impressionistas à sua própria narração, a voz dela emocionante em sua musicalidade e “saudade” (longing) quase nada velada.

O resultado é um tipo de arte cinematográfica performática, com toda a autoconsciência que sugere – uma história de amor de irmãs que não é menos sincera e profunda por vir na forma de um poema em primeira pessoa.

Elena deixou para trás um tesouro de material autobiográfico, incluindo as cartas em áudio que ela enviou para sua família no Brasil, quando recém-chegada a Nova York, determinada a se tornar uma atriz de cinema e se surpreendendo com as possibilidades oferecidas pela cidade. Mais adiante aquela expansividade – tão brilhante e suave em um video-entrevista a uma agência de atores – deu lugar à dúvida. Para Elena era “arte ou nada”, uma postura agravada pela doença mental que a engoliria.

Conduzindo uma busca que é tanto metafórica quanto investigativa, Costa refaz os passos de sua irmã, às vezes acompanhada pela mãe, que fala abertamente de sua dor e culpa. A cineasta combina imagens de arquivo, material digital fresco e cenas feitas para parecer antigas, usando um estoque de filmes virgens antigos. Tal abordagem híbrida pode ser problemática em documentários de cunho mais jornalístico. Mas neste filme de mistério existencial, o ofuscamento entre o velho e novo é enriquecedor, uma forma de criação de mito pessoal.

O mito poderia ter sido mais firmemente estruturado: a repetição toma conta na segunda metade. Então Costa reúne suas energias poéticas em um lindo gesto final, transformando o inconsolável em sublime.

Leia a matéria original http://lat.ms/1y6mi4d

 

 



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