Village Voice: ELENA é um documentário doloroso e deslumbrante
2 de junho de 2014

Por Alan Scherstuhl
Tradução: Elidia Novaes

Uma evocação dolorosa e linda, o perturbador documentário ELENA, de Petra Costa, dança com a morte, a memória e a família, seduzindo os espectadores e, em seguida, partindo seu coração.

Saber o que vai acontecer não oferece muito alívio. A irmã mais velha de Petra, Elena, uma atriz e dançarina vista em comoventes vídeos caseiros deteriorados, seguiu apressada do Brasil para Nova York, enquanto Petra ainda era criança.

Elena, já uma experiente artista de palco no Brasil, em vão tenta fazer carreira no cinema norte-americano. Vemos a gravação de um teste promissor: como nos vídeos que mostram Elena dançando em teatros de São Paulo – flamenco, butô e uma coreografia na qual ela é perseguida nos bastidores por rolos de cabos – a estrela que nunca foi parece incrivelmente radiante, visível apenas de relance.

Vislumbres dominam o absorvente filme de Petra. Ela tinha apenas sete anos quando Elena se matou em Nova Iorque. Sua narração em devaneio é endereçada a sua irmã, uma pergunta suave: “Você fica em casa, o dia todo em casa. Fazendo o que? Falando com quem?” Petra reúne fragmentos da vida de Elena – vídeos de aniversário, imagens antigas da Nova York na qual ela se perdeu, a entrevista com um homem que a conhecia, seu bilhete de suicídio.

O retrato é insuportavelmente íntimo, mesmo com toda a adivinhação. Afinal, tragicamente, a história se volta para os sobreviventes: a mãe ainda de luto, e Petra aprendendo a viver sem o exemplo de sua irmã.

Em sua carta final, Elena escreveu sobre seus momentos no palco, como depois ela se sentia decepcionada, não saciada, diminuída até: “Momentos depois, eu não tinha mais a sua luz”. Este retrato fascinante, vacilante na tela, mesmo angustiado, a imortaliza. Ela é luz para sempre.

Leia o texto original: http://bit.ly/1p0zQsK



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