Petra Costa vem a Santos ouvir ‘outras Elenas’
12 de julho de 2013

Cena de Elena, longa no qual a diretora traz à tona emoções difíceis de serem elaboradas e aceitas

Petra é o nome de uma cidade encravada em um vale da Jordânia cujos edifícios foram esculpidos diretamente na rocha. Para nós, brasileiros, tem sido um dos nomes mais comentados nas últimas semanas, não porque se refere à cidade árabe, mas à jovem cineasta Petra Costa, cuja obra já se revela forte como rocha, com vocação para fazer história.

Elena, seu primeiro e premiado longa-metragem, é um documentário que se confunde em alguns momentos com a ficção, nas memórias recriadas da diretora sobre a irmã que se matou aos 20 anos de idade – quando Petra tinha apenas 7 e ouvia pela primeira vez a palavra suicídio, um tema ainda tabu na sociedade.

É por este e outros assuntos que julga importantes que a diretora tem participado de encontros com o público e chega hoje a Santos, para exibição do filme no Auditório do Sesc, seguido de um bate-papo com ela, mediado por Tammy Weiss, coordenadora do Instituto Querô, que responde pela realização da sessão junto da produtora Busca Vida e do Sesc.

O filme ficou apenas três semanas em cartaz em Santos, mas foi o suficiente para impactar a seleta plateia que encarou o retrato da dor dilacerante da perda e a libertação da mesma quando Petra resgata a irmã do “vale dos esquecidos” para reconstruir a memória de Elena por meio do diário dela, de fitas caseiras de vídeo, recortes de jornal e das audiocartas gravadas em fitas cassete e enviadas de Nova Iorque, onde foi estudar teatro na década de 80.

Pelo Brasil, até agora, mais de 46 mil espectadores assistirama Elena. Não é pouco para o gênero documentário.

OUTRAS ELENAS
Além de todas as qualidades estéticas bastante comentadas pela crítica brasileira e estrangeira, o filme tem sido importante também pelas discussões que provoca. “O encontro com o público é sempre muito forte, porque depois da sessão as pessoas vêm falar comigo bem emocionadas e compartilham as suas próprias Elenas, suas perdas, se lembram de pessoas que perderam ou de suas próprias angústias. Então, tem um espelhamento que é muito comovente”, disse a diretora, em entrevista para A Tribuna.

Petra conta que debater os temas que o filme suscita era um de seus objetivos. “Para mim, o filme era necessário não só como obra estética, mas também porque ele aborda temas que são tabu e pouco discutidos como o suicídio, a depressão e as questões do feminino”.

De forma bem delicada, o filme aborda três gerações de mulheres: Petra, desde bebê até o momento atual, em imagens gravadas por uma câmera sempre onipresente; a irmã Elena, desde os 13 anos, quando ganha uma câmera de vídeo e passa a registrar vários momentos em família; e Li An, a mãe, desde a juventude, quando sonhava ser atriz.

IDEIA PARA O LONGA
Petra conta que a primeira vez que pensou na possibilidade de fazer o filme foi quando tinha 18 anos e encontrou o diário de Elena: “Identifiquei-me profundamente com as palavras dela. Eu estava fazendo um workshop com o grupo Teatro da Vertigem (de SãoPaulo) e eles deram um tema que era O Livro da Vida. E eu comecei a pensar sobre o que era “o livro da vida” e fui para os meus diários. Acabei encontrando o diário da Elena, que eu nunca tinha visto. Aí fiz uma cena em que misturava trechos do meu diário com cenas do diário dela. Eu não fazia cinema ainda, mas aquilo foi tão forte que eu pensei: ainda vou fazer um filme sobre isso”.

Esta não é a primeira vez que Petra parte do acervo familiar para fazer um filme. Em 2009, ela realizou o premiado curta-metragem Olhos de Ressaca, um retrato poético sobre o amor e o envelhecimento sob a ótica dos avós maternos. Naquela produção, ela contou com um parceiro especial: o cineasta Eryk Rocha, filho de Glauber, que fez a fotografia do curta.

NOVO FILME
No momento, Petra se dedica a um novo filme, uma mistura de documentário e ficção. “Se bem que eu considero Elena também uma mistura com ficção. Mas esse é mais ainda. Será com dois atores franceses da Théâtre du Soleil”, adianta.

EXIBIÇÃO DO FILME ELENA E BATE-PAPO COM A DIRETORA PETRA COSTA E A COORDENADORA DO INSTITUTO QUERÔ TAMMY WEISS. HOJE,ÀS 15 HORAS, NO AUDITÓRIO DO SESC SANTOS, NA RUA CONSELHEIRO RIBAS, 136, APARECIDA,
TEL.3278-9800. ENTRADAFRANCA.



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