“Mas há aposta na vida com todas suas precariedades”
15 de maio de 2013

Por Denilson Lopes – 15 de maio de 2013

Acabo de ver Elena de Petra Costa. É uma bela estreia de uma diretora que não teme dizer o sentimento, que não teme mesmo o clichê que ao fim e ao cabo nos atravessa e nos constitui. Primeiro, uma estória de fantasmas. Fantasma é Elena, a irmã que morreu, mas também Petra, a irmã que sobrevive e vai para NY no rastro de sua lembrança. Fantasmática é NY feita de pessoas desconhecidas, estrangeiras, aparições fugazes onde Elena não se encontra e onde Petra corre o risco de se perder. NY é Elena . Segundo, uma estória de busca de memórias por parte de uma jovem mulher que se refaz e de uma diretora se faz artista à sombra da irmã que não conseguiu ser, que escuta a mãe contar a estória do suicídio de Elena e se colocar na mesma cama em que ela se matou, na mesma posição em que a encontrou morta. Mãe e filha reencenam mesmo a perda de Elena não para apagá-la mas para redimensioná-la. Terceiro, uma delicada estória de amor de duas irmãs, da mãe que quase se mata após ver a filha morrendo, uma estória de uma linhagem feminina que desconstrói o mito da Ofélia. Não se trata de afirmar o clichê da mulher que se desespera pelo amor nem pela ausência do amor. Aqui não há Hamlet. Há muitas Ofélias, algumas possivelmente morreram, mas outras, muitas renascem a partir das águas escuras de melancolia. Nada aqui é solar. É uma estória séria de atmosferas sutis, quase sem lágrimas (ao menos na tela) nem gritos. Não há ironia. Mesmo a alegria que surge não como redenção mas, como definia Nietzsche, por enfrentar a vida com toda sua dor. Alegria discreta, sem sorriso final, sem exuberância. Há morte e dificuldade de perder. Mas há aposta na vida com todas suas precariedades.

Denilson lopes é professor e crítico de cinema



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