A mulher de vestido vermelho somos todos nós
12 de julho de 2013


A foto feita por Osman Orsal, profissional da Agência Reuters, no exato momento que a jovem é atingida, correu o mundo em sites de notícias e logo foi parar nas redes sociais.

Em meio a tantas cenas registradas nos protestos que aconteceram na Praça Taksim, em Istambul, no início do mês de junho, uma chamou a atenção do mundo e agitou as redes sociais: uma jovem mulher, de vestido vermelho e bolsa a tiracolo, é alvo da violência policial. Sem esboçar qualquer reação ou oferecer ameaça, ela é atingida no rosto por um forte jato de gás lacrimogêneo.

A ‘mulher de vestido vermelho’, como ficou conhecida, nas verdade é Ceyda Sungur, uma estudante da Universidade Técnica de Istambul. Apontada como símbolo dos protestos na Turquia, Ceyda recusou o título. Deu algumas poucas entrevistas e, em uma delas, afirmou que era apenas mais uma no meio da multidão. “Muitas pessoas igual a mim estavam protegendo o parque, defendendo seus direitos e a democracia. Elas também sofreram com o gás lacrimogêneo”, declarou.

Detalhe da capa da revista piauí de julho de 2013

A imagem inspirou o ilustrador turco Murat Palta a criar a capa da revista brasileira piauí deste mês de julho. Entre outras ideias, está lá a jovem de vestido vermelho sendo alvejada pelo gás. Para traçar um paralelo com as manifestações que também aconteceram no Brasil, Palta colocou uma bandeira brasileira na mão da jovem de vermelho.

A presença do símbolo máximo brasileiro em meio a uma representação de um fato ocorrido em Istambul também se justifica pelo texto que Petra Costa, a diretora do filme ELENA, assina na revista. Petra estava na Turquia no ápice dos protestos contra o governo do premiê Recep Tayyip Erdogan, do partido islâmico da Justiça e do Desenvolvimento. Lá, encontrou o cineasta egípcio Mohammed Hamdy.

Petra Costa na Praça Taksim, em Istambul (No cartaz: Taksim é nossa, Istanbul é nossa)

Hamdy, assim como a “mulher de vestido vermelho”, é um impassível diante de protestos como esse. Em 2011, ele passou 7oo dias acampado na Praça Tahrir, no Cairo, acompanhando a revolta que depôs o ditador Hosni Mubarak. A experiência deu origem ao documentário The Square. Depois, ficou mais 100 dias filmando a Primavera Árabe na Síria, na Líbia, no Bahrein.

A população nas ruas da capital turca, no início de junho de 2013

No texto que escreveu para a piauí, Petra, além de relatar o clima que encontrou nas ruas de Istambul, revela detalhes da conversa que teve com Hamdy. “Os políticos são muito pragmáticos e abrem mão de seus princípios. Precisam de cães de guarda para latirem nas ruas assim que fizerem algo errado ou estiverem prestes a fazer algo errado”, disse-lhe o cineasta.

Como se as interligações não fossem suficientes, Murat Palta é também um jovem turco. Formado em design gráfico na Kütahya Dumlupınar University, tem como sua marca registrada as ilustrações que misturam o tradicional e o moderno.

O ilustrador turco Murat Palta (foto: reprodução Facebook)

Sua série mais conhecida, “Classic Movies in Miniature Style” (parte de sua tese), mescla elementos da tradição otomana com cenas de filmes ocidentais modernos, como Star Wars e O Poderoso Chefão.

“Combinar o global com o local, o tradicional com o contemporâneo, e adicionar um pouco de humor a isso tudo foi divertido e recompensador para mim”, escreveu o ilustrador em seu site.

Ilustração da série “Classic Movies in Miniature Style”, de Murat Palta

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