‘Elena’ transforma vida real em arte de cinema
25 de maio de 2013

Rafael Segatto, para o Século Diário de Vitória – 24/5/2013

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Rememorar mentalmente as lembranças infantis é a maneira que as pessoas encontram de seguir e lidar com as emoções que a memória traz à tona. É respirar. Petra Costa foi além para produzir Elena, seu primeiro longa-metragem.

A concepção do filme começou a caminhar quando ela descobriu o diário de sua irmã, Elena, quando ainda tinha 17 anos. Influenciada por Hamlet e sua Ofélia, a cineasta também encontrou inspiração em Bicho de Sete Cabeças (2001), de Laís Bodansky, para produzir o longa.
O projeto passeou por sua cabeça durante uma década: tempo em que Petra, aos poucos, foi desenvolvendo o enredo da produção audiovisual. Ela, porém, não ficou engessada – o premiado Olhos de Ressaca – curta de sua autoria – demonstra que a diretora só não colocou Elena em prática antes por não se sentir, ainda, preparada para mergulhar na história da irmã.
Elena Andrade, a irmã de Petra, era atriz e foi parar nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova Iorque, para tentar carreira. A sua morte precoce, em 1990, aos 20 anos, se tornou prato cheio para a cineasta se adentrar em seu próprio universo familiar.
O suicídio no filme é tratado de forma sutil, pois essa não é a intenção. Em uma narrativa semelhante a uma carta para a irmã, o enredo vai entrelaçando o espectador. Elena, apesar de um nome só, aborda a relação familiar entre a mãe e as duas filhas: Elena e Petra.
Foi com a irmã mais velha que a diretora fez muitas primeiras coisas – aprendeu a dançar, a cantar e até ser atriz, nas caseiras gravações feitas por Elena. Por isso, não é surpresa que ela encene a trama.
O trauma da súbita perda e toda a confluência de sentimentos que a história de sua vida incita, faz com que ela tome propulsão até Nova Iorque para encenar os passos de Elena – como se a qualquer momento fosse esbarrar com ela no metrô e deixando o espectador invadir a sua intimidade. Vivenciar a sua dor.
Petra tinha sete anos quando Elena se mudou. Agora, crescida ela demonstra ao público como lida com a lembrança da irmã falecida, como ela ainda está presente e como foi o fato da irmã ter sido encontrada sem vida em um apartamento nova-iorquino por sua mãe.
O documentário trata essa relação a partir do momento em que a diretora convenceu sua progenitora a reviver a dor de visitar o bairro e a casa em que encontrou a filha morta – em um limiar entre a produção cinematográfica e a confluência de sentimentos.
Elena chega ao público carregando os prêmios de melhor direção, direção de arte, montagem e melhor filme segundo o júri popular no 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro – todos na categoria documentário – e Petra transformou o contexto de sua vida em arte de cinema.
Onde Assitir (Vitória-ES)
Cine Jardins – Shopping Jardins: Sala 1. 19h10.


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