A lucidez de ELENA

Por Gislei Domingas – Blog Ventos de Giz – 18/1/2014

Elena_adolescente_Iemanjá_pb_1984Recebo a mensagem de que temos mais uma chance para encontrar Elena em Porto Alegre.

De quem se trata? Eu poderia trazer sua história e argumentar com a trama de sua vida o porquê deste encontro. Mas prefiro revisitar os afetos que permanecem comigo, depois de viver as intensidades da experiência de um dia que se fez marca no calendário de 2013, mas que me toca sem passar no tempo.

Numa tarde molhada, andei pelas calçadas que levam à Casa de Cultura Mario Quintana. A chuva era a companhia exata para chegar à sala desta sessão de cinema. Dia para abrir aquela caixa onde guardamos vestígios do tempo nas estações dos afetos: cartas, fotografias, bilhetes, pequenos objetos, diários, imagens que contam a vida. Um dia feito para perder-se na intimidade de memórias que guiam nossos trajetos   à medida que percorrem o enigma do esquecimento para receber a visita de nossas lembranças.

História de Elena sob o olhar da irmã. História da irmã na insistente memória que pousa em Elena. História delas, tua, nossa. Imagens que ultrapassam uma vida para nos tornarmos íntimos nos sentimentos que percorrem a existência.

Por vezes a sala de nossa casa, o quarto que nos esconde. Pode ser também a rua onde tantos transitam e entre eles o singular pisar de Elena. A chuva levou os vestígios do passo que marcou o chão, mas permanece o movimento de um olhar que nossa lembrança faz traço no tempo. E na partida de quem amamos as dores da vida que insiste em prosseguir. Entristeci.

Um convite para se enredar na sala de um cinema e entristecer? Sem a companhia da chuva e em pleno sol de verão?

Talvez.

Sim, eu senti a dor da tormenta que nos faz colocar a vida em questão. Dos vacilos que nos dilaceram na lembrança do que poderia ser, mas já foi. Mesmo assim insisto no convite. Encontro o ato corajoso de fazer do movimento da dor da própria vida a película da expressão. Ousar sentir com o outro o que se passa na pele de nossos corpos.

Triste e sensível, denso e afetivo. Transparente na arte de expressar a força que produz a vida. Corajoso.

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