Por Silvio Torres – Blog Lavra Palavra – 3/7/2014
ELENA é um filme brasileiro de 2012, dirigido por Petra Costa e produzido pela Busca Vida Filmes. É um ensaio poético filmografico baseado na vida da atriz Elena Andrade, irmã mais velha de Petra, diretora do filme.
Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho da mãe: ser atriz de cinema. Deixa para trás uma infância passada na clandestinidade dos anos de ditadura militar no Brasil e deixa Petra, a irmã de sete anos. Duas décadas mais tarde, Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena.
Petra tem apenas pistas da irmã: filmes caseiros, recortes de jornal, diários e cartas. A todo momento Petra espera encontrar Elena caminhando pelas ruas com uma blusa e seda. Pega o trem que Elena pegou, bate na porta de seus amigos, percorre seus caminhos e acaba descobrindo Elena em um lugar inesperado.
Aos poucos, os traços das duas irmãs se confundem, já não se sabe quem é uma, quem é a outra. A mãe pressente. Petra decifra. Agora que finalmente encontrou Elena, Petra precisa deixá-la partir.
A despedida no passado, entre Elena e a cineasta Petra, sua irmã, veio na forma de um presente singelo: uma concha do mar.
“Quando você sentir saudade, encoste a concha no seu ouvido e assim a gente pode se falar”, disse a irmã, Elena, 13 anos mais velha.
Petra, de apenas 7, na ocasião, escutaria muitas vezes aquela concha nas semanas que se seguiriam.
Meses, anos, duas décadas se passaram. Petra já era atriz e cineasta quando voltou a Nova York à procura de Elena, decidida a filmar a saudade.
Elena é um filme sobre a persistência dessas lembranças, a irreversibilidade da perda, o impacto causado na menina de 7 anos pela ausência da irmã, a quem Petra chama de sua “memória inconsolável”.
“Pouco a pouco, as dores viram água, viram memória”, diz a diretora, a um só tempo atriz e personagem.
Elena é, também, um filme sobre a aventura de crescer, uma história de três mulheres que dialoga sobre temas como família, maternidade, dor e superação. É, ainda, um filme sobre o Brasil pós-ditadura militar, sobre a geração que nasceu clandestina e cresceu entre os anos 1970 e 1980, com o desafio de batalhar por seus sonhos em tempos de abertura e esperança.
O cineasta Eduardo Escorel, da revista Piauí, recebeu bem o filme, sustentando que “a narrativa complexa e delicada de Elena flui de forma harmoniosa, articulando com maestria materiais heterogêneos, sem se tornar lúgubre”.
Luiz Zanin, d’O Estado de S. Paulo, considerou o filme “emocionante”, ponderando que o filme é uma “reflexão sobre a função da memória”, enquanto Roberto Guerra, do Cineclick, considerou Elena “carregado de lirismo e poesia”.
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