Por Leonardo Bomfim – Jornal Tabaré – 28/6/2013
Velha amiga dos bruxos, a coincidência também ajuda: dois dos filmes mais debatidos dos últimos dias no cinema brasileiro, Doméstica e Elena, entraram em cartaz praticamente ao mesmo tempo em Porto Alegre, levando ao palco uma das questões destacáveis dessa jovem produção: a ausência e a presença, em níveis extremos, do cineasta em seu próprio filme.
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Até que ponto a ausência do cineasta é uma moda passageira, não dá pra saber, por isso a existência de um filme como Elena, o xodó do momento dirigido por Petra Costa, parece tão importante. Aqui a presença da cineasta é vital: não apenas porque o filme é sobre sua família e realizado em primeira pessoa, mas justamente porque há a urgência em descobrir algo – mais do que a história das três mulheres, mais do que uma possível verdade sobre o suicídio da irmã, aqui há a necessidade de descobrir o próprio filme e por que não, o cinema. O resultado pode não ser o cinema dos sonhos – Elena é um filme que caminha em constantes tropeços, mas ao menos há um esforço, uma tentativa.
A força de Elena vem de algo raro: é um filme que foge das mãos de sua criadora a todo o momento. Talvez Petra Costa não tenha pensado, ao pensar sua obra, que as três mulheres são a mesma mulher, ou não queira deixar explícito que o ir até o fim da filha é um sonho também não realizado pela mãe, um ser que foi “salvo” pelo casamento, pela família, enfim, pelo dever histórico de ser mulher, guardiã do mundo, etc. Já disseram que o único autorretrato possível é o daquele que não sabe quem é. Pois em Elena há três mulheres que não sabem quem são – é um filme, enfim, de quem não sabe nada, e não é fácil filmar sem saber nada. Mas acima desse mergulho no abismo, o que o filme de Petra deixa claro é que quando o cineasta está presente, ele acaba permitindo a sua ausência ao espectador de uma forma muito poderosa, na contramão de filmes como Doméstica e Pacific, que nunca saem do controle por estarem na redoma de vidro que é a ausência do cineasta.
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