Por Mari Pimenta, no blog Diário da Pimenta – 8/9/2013
Nem sei como descobri sobre esse documentário. Acho que foi alguma postagem no Facebook que chamou minha atenção e curti a fanpage do documentário. Antes, ou depois, não me lembro, assisti ao trailer abaixo. Depois curiosa que sou, entrei no site. Li todas as críticas. Desde então estava decidida que não poderia deixar de assistir Elena.
Assistimos, Rodrigo e eu. O impacto do filme não passa, é uma onda que parece crescer. As pessoas precisam assistir Elena. Precisamos falar de Elena. Não somente do talento e da obra desta jovem atriz, mas principalmente desta angústia, deste vazio, dos perigos da depressão, da dor de um suicídio.
E apesar de no começo ter certeza de que me identificaria com Elena, é com Petra que me identifico logo de cara. Temos quase a mesma idade, somos mineiras. Quando ela fala do seu aniversário de sete anos, as coisas que a irmã lhe disse, que os sete seriam a pior idade, sou tomada por um sentimento de injustiça. Não é verdade, os meus sete anos foram incríveis, foi um dos melhores anos da minha vida, principalmente porque era capaz de ler, ler e ler sem parar. Finalmente havia dominado a mágica das palavras e descobri que a quantidade de livros que tinha pra ler dali em diante era infinita. Também foi nessa idade que conheci o mar! Uma paixão que já carregava antes de sequer sentir a maresia. Os acontecimentos na vida da Petra nessa idade me magoaram muito. Abalaram a criança que eu fui e a certeza que eu tinha que todas as crianças compartilhavam os sete anos como uma idade especialmente boa. Petra narra uma história muito pessoal, se coloca como personagem principal do seu filme, se expõe, transforma dor em arte, inspiração e ponto de partida para reflexão e discussão de temas importantes e pertinentes. Acredito que seja comum a quem assiste o sentimento de gratidão por compartilhar uma história tão pessoal de uma forma tão delicada. Se eu pudesse presentear Petra em agradecimento ao filme, oferecia para ela as memórias mágicas dos meus sete anos.
Todos vamos morrer. Isso assusta. Mas acho que o mais assustador quando pensamos em nossa própria morte é não deixarmos nossa marca. Não é que tenhamos medo de morrer, mas sim de sermos esquecidos. De ir antes de conquistar nossos sonhos, de viver todas as oportunidades que aguardamos ou planejamos, de realizarmos aquilo que nos permita pensar, agora posso morrer em paz. O medo da vida sem significado maior. Não é fácil lidar com frustrações, com a tristeza profunda ao descobrirmos que a vida quando adultos não é simples como imaginávamos e dificilmente seremos tudo aquilo que sonhávamos. Essa falta de controle sobre o nosso destino desbaratina. E a morte vir como solução para esse problema, a forma de acabar com essa busca que parece inútil e sem fim, mas sem a qual a vida não parece ter sentido, é mais comum que se imagina. No entanto, acredito que as pessoas com projetos mais ambiciosos e inatingíveis as são aquelas que viram exemplos, heróis, ídolos. Já ouvi várias vezes que a maioria dos suicidas não buscam se matar, mas apenas chamar atenção à sua volta para o tamanho da dor que carregam. O suicídio muitas vezes é a única forma que lhes resta de pedir socorro. A única esperança para estes casos é o fim do preconceito com o suicida, pararmos de ignorá-los, buscar entendê-los ou sentir por eles compaixão, dar importância a dor do outro, por mais que ela possa parecer menor ou diferente da minha.
Petra faz um grande trabalho com o filme Elena. Ela realiza do sonho da mãe, dela e da irmã de serem atrizes de cinema. Não é o tipo de cinema que haviam sonhando, mas certamente também não é um documentário convencional. Elena é único, diferente de todos os docs que você já viu. Mais que realizar este sonho que passa de mãe para filhas, Petra com este filme não deixa que a vida de Elena seja esquecida. Elena marca não pela sua morte, mas pela sua vida! Elena é intensa. Não importa que tenha vivido apenas 21 anos, o pouco que ela deixou é muito, suficiente para que mereça ser lembrada, conhecida e querida. Li An e Petra também devem ter terminado o filme com um pouco menos de medo da morte. Deixaram suas marcas nas vidas de milhares de pessoas, certamente serão exemplos para muitas mulheres e mesmo daqui a centenas de anos, provavelmente terão essa história ainda sendo assistida e debatida. Esperamos que até lá, o mundo esteja mais preparado lidar com o suicídio.
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