Diretora revê suicídio da irmã no documentário ELENA

Rodrigo Salem, caderno Ilustrada da Folha de São Paulo – 23/9/2012

Elena queria ser atriz desde criança. Fazia vídeos caseiros dançando com a irmã e dirigia filminhos com a família. Fez teatro em São Paulo, mas queria mesmo ser estrela de cinema nos EUA.

“Elena”, o filme em que Petra Costa —a irmã— conta sua história, faz sua estreia hoje na competição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e, em outubro, estará na Mostra de São Paulo.

No fim dos anos 1980, Elena foi tentar a carreira em Nova York. Fez vários testes entre os bicos que arrumou na cidade e ingressou na New School for Social Research.

Foi, porém, vencida pela solidão e pelas rejeições. Gravemente deprimida, ela tinha só 20 anos quando se matou.

Petra Costa, que hoje tem 29, temia percorrer o mesmo caminho trágico da irmã, 13 anos mais velha. Não foi o que aconteceu.

A diretora e atriz Petra Costa em cena no documentário “Elena” Em vez disso, ela revisitou toda a trajetória de Elena e, no filme, traçou um paralelo com suas próprias escolhas de vida. O resultado é um dos mais belos (e dolorosos) documentários brasileiros dos últimos anos.

A semente do longa foi germinada há 12 anos, quando a diretora e atriz mineira fez uma oficina no Teatro da Vertigem, em São Paulo.

“Eu precisava fazer uma cena sobre o livro da minha vida e, ao olhar meus diários, encontrei um de Elena”, explica a cineasta.

“Foi assustador, pois continha questões parecidas com as minhas. Eu prometi que faria um filme sobre isso.”

A confusão de identidade é levada com destreza pela diretora.

Em determinados momentos, você não sabe se está vendo um drama ficcional pesado, um documentário sobre uma jovem cineasta em Nova York em busca da irmã ou um longa estrelado por uma frágil aspirante a atriz.

“Essa história do duplo foi proposital. Eu estava escrevendo uma ficção, quando sonhei com minha irmã. E, no fim, eu que morria”, conta Petra, que, estudou teatro e antropologia em Nova York —contra a vontade da mãe, que temia a repetição da história.

“Eu precisava ir aonde o meu medo estava. A cidade teve esse papel, pois descobri meu caminho, e ele era bem diferente do de Elena”, confessa a diretora.

Quando decidiu filmar o documentário, em 2010, encontrou um vasto material em vídeo da irmã, mas precisou enfrentar o receio da família para contar a história.

“Algumas pessoas acharam que era uma loucura me expor assim”, diz Petra. “Só consegui porque já tinha feito muita terapia antes.”

Ao quebrar a resistência, Petra Costa se revela como promessa na direção —e, ainda que tardiamente, faz de Elena uma estrela.

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