Por: Luzia Miranda – Blog da Luzia – 15/8/2013
Nós que fazemos filmes/vídeos em casa, com membros de nossa família, sentimos o carinho com que Petra Costa realizou o seu “Elena” (Brasil, 2012) filme-homenagem à sua irmã que desejava ser atriz, desejava dançar diante das câmeras e não se contentou brilhando no cenário nacional, onde ganhou páginas de jornais e revistas, ppreferindo tomar o rumo dos “States” onde achava que ali teria a chance de se tornar uma estrela (mas ela já era uma, diga-se).
Em um momento das lembranças de Petra há uma frase de Elena que nas imagens ganha uma singela animação e que refere uma dança com/ ou na lua. Vai ter significado ao assistirmos o filme pelas evidências de que a jovem brasileira não resistiu a tanta ansiedade de frequentar aquele mundo tão competitivo para onde seguiu em busca de sucesso. E o céu que ganha não é o das estrelas de Hollywood. Na linguagem poética da irmã que era uma criancinha quando a mana já ensaiava seus passos de dança e seus pendores de atriz, as duas se confundem. No correr da narrativa, se é que se pode chamar de narrativa, pois o filme todo é poesia livre, elas se enleiam. Há cenas em que não se sabe se é Petra ou Elena que estão andando ou simplesmente olhando em frente. Compreende-se a ideia da irmã em não só seguir os passos da mais velha no país que esta escolheu para morar como transportar imagens de velhos filmes caseiros em elementos de versos, ou divagações amarradas a doces lembranças.
Também é focalizada a mãe de Elena e Petra. Dos vários closes, também tirados dos velhos filmes, o rosto reflete amargura. O destino da primogênita não seria o desejo materno. Isso não precisa ser dito em palavras. Aliás, o filme não usa muito falas. A cineasta prefere sempre o apoio da imagem. São recortes do passado, alguns enfoques do presente, tudo montado de uma forma aparentemente anárquica, como a dizer que os sentimentos fraternos não se prendem a convenções sejam literárias sejam cinematográficas no sentido tradicional.
“Elena” é um filme corajoso como foi montado para chegar ao grande público. Para absorvê-lo bem é preciso que o espectador saiba do valor que tem os registros de imagens familiares que já existiam no tempo das películas em 16mm ou Super 8mm e hoje são comuns no traquejo dos vídeos (antes do VHS hoje do DVD).
Um trabalho desse porte evoca o valor da câmera como o olho da vida, a testemunha de acontecimentos que não tem opinião própria como no cinema de ficção ou “pousado”, mas simplesmente registra detalhes que se apegam a emoções. É só pensar nos vídeos de festas intimas como aniversários. Anos depois do fato acontecido, vê-se o que foi gravado como testemunha de momentos alegres, de união de pessoas queridas, o que não quer dizer que se registrem também fatos amargos, partidas de alguém seja para outro lugar, seja da própria vida. Esse modo de fazer cinema, aparentemente anárquico porque não segue um processo narrativo ligado a uma determinada história, é pura emoção. Claro que diz respeito, primeiramente, a quem o fez. Mas não se furta a oferecer um efeito mimético. Daí se dizer que “Elena” é um filme de amor entre irmãs que transborda para as plateias.
Na coluna de terça feira, neste espaço, mencionei filmes brasileiros bons em meio às pornochanchadas lucrativas. Coloquem o trabalho de Petra Costa, “Elena”, nesse rol.
ENGLISH