Por Vitor Ferreira, no blog Cinema, Alucinógenos e Canarinhos
Nota: 8,0
Recentemente um documentário brasileiro tem feito sucesso, sido bastante comentado na internet e nas redes sociais, recebido alguns prêmios tanto no Brasil como no exterior e sido cotado para representar o Brasil para a disputa do Oscar de filme estrangeiro. Escrito, dirigido e narrado por Petra Costa, sobre a vida de sua irmã, Elena Costa, que sonhava em ser atriz em Hollywood e se mudou para Nova York para estudar e seguir o seu sonho. Intercalando vídeos caseiros de arquivo pessoal com caprichadas e melancólicas composições visuais de uma Nova York atual, uma trilha sonora bonita (porém depressiva), contando um breve histórico familiar e seu contexto social, e sempre narrado com um tom meio emocionado, meio desanimado da diretora, não consegui bem ao certo discernir, aos poucos vamos sabendo os rumos que a vida destinou à Elena.
Antes de tudo, vale ressaltar que essa é uma obra extremamente pessoal. E longe de mim querer dizer como cada um deve lidar com sua perda, com o seu luto. Mas já que estou dando opinião sobre o filme (e não sobre como superar traumas, pois não tenho competência para tal), no meu ponto de vista me pareceu ser muito masoquista. Não cheguei a achar sádico, pois eu, pessoalmente, não “sofri” em nenhum momento do documentário, mas essa é uma outra interpretação que eu não teria dificuldades em ver.
Até porque qualquer pessoa que tenha assistido ao menos ao trailer sabe que Elena está morta. O que nos leva a acompanhar tudo é saber como os fatos se desenrolaram, até porque em quase todo filme a gente já sabe como vai terminar, sejamos sinceros. Finais surpresa são raros, são arriscados e não são exatamente unanimidades. Então não houve surpresa alguma no andar dos acontecimentos.
Ou talvez seja uma forma da diretora finalmente encerrar esse episódio da sua vida e seguir adiante. Uma forma de terapia mesmo. Ou pode não ser nenhuma das duas coisas. Mas essa é a impressão que pra mim ficou, do alto da minha ignorância das vidas privadas alheias (a quem fui convidado a testemunhar).
Então, enquanto eu assistia, tudo o que passava pela minha cabeça era como essa história poderia ser contada de tantas outras formas mais interessantes, se uma pessoa com maior distancia pusesse as mãos no roteiro. E certamente a personagem Petra/Elena seria um personagem de uma carreira para qualquer atriz.
Pelo trailer me parecia um thriller, um filme de mistério, tipo Cisne Negro ou Mulholland Drive. Eu não imaginava, não fazia ideia de como seria como documentário. Não tinha clipes de entrevistas, ou tabelas, gráficos, nada peculiar ao gênero no trailer. Apenas uma mesma voz em off e imagens bem difusas. Logo aguçou minha curiosidade.
E talvez por eu estar mais acostumado com esse outro formato documental mais padrão, isso me fez parecer que ELENA seja um documentário um pouco pobre de fontes. Tudo tem (ao menos) dois lados, e em documentários normalmente vemos diversas opiniões e visões conflitantes sobre determinado assunto. Mas nesse realmente não há como ter espaço para isso. Confesso que a narração distante e um tanto descompromissada e o tom “poético” me cansou após poucos minutos.
E o clímax do filme acontece pouco depois da metade, ainda longe do final. E os minutos restantes não me diziam bem ao certo o porquê de ser. Pareciam mais uma súplica para que a audiência partilhasse da mesma dor da realizadora, eis o sadomaso por mim comentado antes. Lembrou-me daqueles vídeos e slideshows com poesias ou mensagens edificantes e fotos bonitas desconexas que mandavam em correntes por email nos primórdios da internet. Quem nunca viu aquele “A vida é como uma viagem de trem”?
Petra e Elena são muito parecidas, tanta no voz quanto no físico, e elas se confundem demais. Esse, para mim, é o principal trunfo do filme, o que ele tem de mais interessante. Muitas das vezes eu não conseguia diferenciá-las, se era um antigo vídeo de Elena, se era Petra ao se mudar para Nova York recentemente, etc. E essa confusão me dizia que a identidade de Petra esteve sempre atrelada a existência da irmã na sua vida. E o filme, de certa forma, é uma necessidade que ela tem de se auto-afirmar e buscar a sua própria identidade, mas sem se desfazer da importante memória da irmã.
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