Eu poderia ter sido Elena

Por Dayane – Blog Etérea Essência– 17/12/2014

elena 7Meu namorado diz que gosto de filmes tristes. Prefiro chama-los de Dramas, mas de fato, são tristes, assim como muitas vezes vejo o mundo.

Um filme (documentário) que demorei muito a assistir por não saber sobre o que se tratava exatamente, foi Elena, de Petra Costa, onde ela narra a história de sua irmã, Elena,  atriz, que aos 20 anos decide morrer e como esse acontecimento até hoje impactou a forma de Petra enxergar a vida.

Há uma parte no filme que mexeu muito comigo, onde Petra relata que entra no quarto de Elena com uma amiguinha, ambas com 7 anos (Elena com 20) e a encontram totalmente coberta, apenas com os olhos de fora e estes, vermelhos de tanto choro. Saindo do quarto, a amiguinha de Petra pergunta o que tem Elena, e ela responde “Ela é assim”. Por mais da metade da minha vida, eu achei que eu fosse assim.Tinha aceitado a tristeza , a melancolia, a vida em preto e branco como uma parte da minha alma, do meu destino. Conforme fui tomando consciência de que isso precisava mudar, essa certeza de ser uma pessoa triste tornava-se aterradora, insuportável e eu não via saída, a não ser a morte.

O filme me angustiou muito. Me fez rememorar sensações que já passei ao longo da minha vida e muitas vezes, em menor frequência, ainda passo.  Creio que as doenças da mente são mil vezes piores que a do corpo. Se você está com uma dor no corpo, mas com a mente sadia, você suporta, dá a volta por cima, se refaz. Quando é a sua mente quem está doente, tudo pode parecer perfeito, mas nada importa, tudo parece perdido. Lembrei das várias vezes em que minha vida não tinha sentido algum, das vezes que senti uma dor excruciante que nunca soube de onde vinha e como meu único socorro e consolo era a religião, ao qual eu me agarrava com todas as minhas forças e que , agradeço muito a Deus por tê-la colocado em meu caminhos nesses momentos difíceis, pois foi o medo de perder a vida eterna, os céus, a salvação  e o que diziam naquele lugar , que me mantiveram viva durante muito tempo, durante anos em que nada pra mim fazia sentido, em que , como eu sempre dizia : Viver,era um fardo, uma obrigação.

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Mas eu saí disso, nem eu mesma consigo acreditar, mas saí. Saí com terapia, com medicação, com amparo da família, que passou a me entender e me apoiar, reconhecendo meus medos, traumas, experimentando viver, me arriscar e aprendendo que nada é para sempre, nada é eterno. A vida é feita de fases e isso tudo que passei foi só uma fase.

Queria que Elena tivesse tempo de ter notado que tudo isso era uma fase, que todas essas coisas iriam passar. Aos 20 anos eu também queria morrer. Aos 25 , quero amar, casar, trabalhar, ter filhos, dar continuidade aos meus projetos . Viver muito, e muito bem!

Agradeço a Petra por ter feito esse filme, por sua sensibilidade e sua coragem em se expor, coisa que faço nesse blog diariamente, mas não com tanta delicadeza e beleza que ela fez. Relatar nossa história nos alivia da dor e ajuda a quem está passando por ela a sentir-se confortado, acolhido, a notar que não está sozinho, que é o que muitas vezes tento fazer aqui.

Um filme feminino, intenso, forte. Um filme, que gostaria eu, ter sido feito por mim. Uma história, que agradeço, não vivi.

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