Por: Aldo – blog Cinecríticas – 19/8/2013
O premiado documentário brasileiro Elena consegue tratar de um tema tão difundido atualmente e ao mesmo tempo consegue ser extremamente intimista. O tema são os distúrbios psicológicos do ser humano, no caso, a depressão, a qual não tratada, pode levar a morte. O intimismo é porque a questão é dissecada através do caso da jovem que dá o título ao filme, uma mineira de classe média alta que sonhava em ser atriz e foi aos EUA com a esperança de muitos e ter seu lugar ao sol de Hollywood. Entretanto, ao falhar entra em depressão que culmina com seu suicídio.
Detalhe: a diretora desse documentário é Petra Costa, ninguém menos que a irmã de Elena. E esse é um fator crucial para o diferencial e para suas premiações dentro de fora do país. Petra fez uma proposta estético-narrativa completamente diferente para um gênero em geral tão imparcial, ou quando não, tão formalmente posicionado: transformou seu documentário numa poesia áudio visual, numa declaração de amor à irmã e, em última instância, numa definitiva redenção familiar para se virar uma página que, ainda assim, deve ficar para sempre na memória.
Usando sempre que possível, lentes não convencionais e composições experimentais (os fotógrafos de plantão vão adorar), a produção se divide em duas partes bem distintas: a primeira é a construção da efêmera vida de Elena, onde se juntam imagens de arquivo, entrevista com sua mãe e amigos e um belíssimo texto de Petra, enquanto caminha por uma Nova York cheia de gente e ao mesmo tempo vazia na ausência da irmã. Sem dúvida, este é o ato mais emocionante, onde conhecemos a protagonista até seu prematuro fim.
A segunda parte é outra construção: a da própria Petra, diretora, enquanto irmã de Elena. O último ato só é enfraquecido, pois naturalmente foi feito em grande parte, pensando-se na estrutura da produção o que obviamente a torna menos natural e mais manipuladora, até por usar pouquíssimas imagens de arquivo da infância de Petra, concentrando-se mais no presente e numa redenção final, servindo mais como exercício estético ou cosmético do que complemento à sua própria história. Por outro lado é justamente nesse ato em que as mais diferentes técnicas de fotografia são postas a prova, deixando como resultado, no mínimo, uma bela miscelânea de composições.
“Elena” é uma bela mostra de como o linguajar do cinema pode ser camaleônico sejam em qual gênero for e emocionar qualquer que seja sua proposta. Tocante, mas passa longe do comercial, não sendo para qualquer público.
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