Por: Lucas Maia – blog Máquina das Artes – 22/8/2013
Elena é um documentário. É um documento, pessoal. É um arquivo tirado de um VHS da família da jovem diretora Petra Costa. Elena é como filmar os almoços de família no domingo durante anos e em seguida exibir como um filme para o público do Brasil e fora dele, mas Elena ainda é mais. O filme em questão não só é a documentação pessoal de uma família como o registro da dor, da inspiração, da morte e é acima de tudo ousado e corajoso.
A diretora do longa e uma de suas protagonistas, Petra Costa coloca a cara a tapa uma vez que expõe a intimidade de sua família para contar suas dores ou melhor, a maior delas. O resultado é no mínimo espetacular. Os textos poéticos, suaves e coerentes ao contexto da história de Petra, sua mãe e sua irmã Elena tornam o registro de uma rotina verídica, quase uma ficção. O foco aqui é na personagem título do filme, Elena a irmã mais velha de Petra e o seu sonho em ser atriz.
O filme acontece grande parte em Nova York dos anos 80 e no começo dos anos 90. A jovem brasileira Elena vai à cidade americana para realizar seu sonho: estudar atuação e conseguir papel em filmes. Em certo ponto da produção a aspirante a atriz solta: “Arte para mim é tudo. Sem Arte prefiro morrer”. É nesse contexto de que arte é a vida prospera ou a morte caso ela não exista, que o documentário Elena se torna claustrofóbico em determinado momento, por mais inevitável que seja seu final.
O filme pode aparentar ser sobre Elena, mas a personagem é apenas um mero elemento para a história. É uma força motivacional para Petra Costa é uma dor e lembrança para a mãe das meninas e o motivo de silêncio do pai. E quando se pensa que Elena vai deixar de ser foco da história que está sendo contada, ela passa a ser mais. É como se um indivíduo no final se transformasse em vários seja por sua importância em vida, ou as dúvidas que largou após a sua morte.
Em paralelo, os aspectos técnicos como a edição do filme é algo brilhante. A reunião de imagens do arquivo pessoal da família com as filmagens posteriores realizadas pela diretora para narrar os dias atuais dançam em conjunto o filme todo. A impressão é que há mais de vinte anos atrás, quando tudo era filmado apenas com objetivo caseiro, uma força maior montou no tempo um documentário sobre Elena e família. Seria apenas genial, se também não fosse peculiarmente trágico.
Assim como a analogia feita no filme em que compara a água com a vida e a forma com que ela passa despercebida, assim é Elena que existe e desaparece no nada. Elena existiu aqui para no fim morrer e acaba deixando sua relevância em forma de memórias, palavras e gestos documentados por sua irmã e mãe que criaram sua própria Elena pós-morte. Por fim a vida é apenas um detalhe quando se encontra um propósito, um ideal para lutar e construir sua imagem em cima dele. Se o propósito for enfim maior do que a própria vontade de viver, no fim só restarão as memórias para aqueles que ficarem.
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