Por: Paulo Spolidório – blog Andanças e Palavras – 12/8/2013
“Devemos caminhar na direção do nosso maior temor, ali está nossa única esperança“.
(Herman Hesse)
Imagens foscas, em tons escuros levemente embotados. A cidade chora, em lágrimas chuvosas que escorrem pela janela de um avião silencioso e melancólico. “A arte pra mim é tudo. Sem a arte, prefiro morrer!”, dizia a mãe, repetindo as palavras da filha.
Petra Costa mostra-nos no filme Elena (2012) que a vida é uma busca. Uma incessante busca que nos leva por caminhos inusitados e tortuosos. Curvas que nos tragam ao encontro daquilo que se tentou evitar – quiçá nosso maior sofrimento.
A protagonista do filme, também diretora, imbui-se da coragem para retratar a dor provocada pela morte abrupta da irmã, a atriz Elena Costa, vítima do próprio sofrimento. Uma obra autoral que explora corajosamente arquivos pessoais da família e depoimentos sinceros da mãe de Elena, desnudando e desmistificando alguns tabus na sociedade, como a depressão, a automutilação psicológica e o suicídio.
Petra é impulsionada a seguir o mesmo caminho da irmã. Vira atriz. Segue para Nova Iorque, em busca de uma plácida compreensão, um alento. Envolve-se nos mesmos tentáculos que extirparam a existência de Elena para ressurgir fortalecida, apurando seu luto e reafirmando sua existência. Sua existência. Nossa existência: uma obra de arte fragmentada, que a todo tempo se tenta juntar-lhes os pedaços.
A busca pessoal da personagem corporifica-se na construção minuciosa do filme, que embora aborde temas complexos e densos, consegue transmiti-los de forma delicada e sincera, tendo como personagem a atmosfera sóbria de um outono nova iorquino e a própria busca por respostas. Pois, afinal, quem as tem, se a própria vida é um incessante fragmentar-se e reconstruir-se?
ENGLISH