De volta a sala escura

Zeca Camargo – blog do G1 – 13/5/2013

Vamos flutuar

Jordan M. Smith - IonCinema – 1/5/2013

Seja bem-vinda, Elena

Eduardo Escorel - Revista Piauí - 6/5/2013

A essência do ato de documentar

Por Wellington JúniorCinema News – 29/12/2013

A imagem, segundos muitos teóricos, é a impressão da memória. É o fator das lembranças, do passado, do que não volta mais. E esse passado acaba que se tornando eterno, onde a eternidade pode ser visto como algo bom ou ruim.

Percebe-se que algumas tribos sentem medo da imagem. Para elas é algo que prende a alma, que mata – algumas acreditam que close no rosto (também serve para outras partes do corpo) é uma decapitação.

Esse pensamento ao redor da imagem pode até ser cômico, mas acaba que se tornando verdadeiro. Nunca mais veremos James Dean a caminhar na rua em uma manhã, mas ele acabou que sendo eternizado através de seus (poucos) filmes e centenas de fotos. Sua persona foi imortalizada, sua lembrança preservada.

Essa preservação da memória é um fator delicado, mas totalmente preciso se fomos analisar dois documentários brasileiro que trabalham muito bem com essa teoria da eternização pela imagem.

O primeiro é Person. Documentário sobre o lendário diretor onde sua filha, Marina Person, traça um mosaico do pai – que ela perdeu quando ainda era criança – em cima de seus poucos filmes realizados e das lembranças alheias. O que vemos aqui é uma necessidade de não perder o pouco que ela possui na sua mente sobre ele. Recorre as pessoas que conviveram com ele e acaba tomando posse das memórias alheias para criar um único registro e eterniza-lo.

Já em Elena podemos ter o amadurecimento da ideia que Person inicia. Aqui vemos Petra seguindo os passos da sua irmã – que dá o nome ao título – tentando preservar o pouco que restou dela na sua memória e também para tentar compreender o fim que ela levou.

Diferente de Marina, aqui, em Elena, a diretora tem pouco sobre sua irmã na sua mente. A necessidade de encontrar algo concreto para se eternizar se torna algo intenso e acaba virando uma obsessão. Petra acaba se perdendo nas lembranças que tem de Elena e nós, telespectadores, perdemos a percepção de distinguir a personalidade de cada uma.

Elena, assim como Person, são documentários de preservação. Mas essa preservação é da memória, para que ela não caia no esquecimento. É a compreensão que o esquecimento é um lugar triste, vazio, um lugar onde não queremos que quem amamos vá parar lá, que isso pareça inevitável.

Os dois documentários mostram a essência do ato de documentar. A necessidade de capturar. A necessidade de eternizar.

ELENA, meu filme favorito do ano

Blog – Quem tem medo de Virgínia Wolf – 28 de dezembro de 2013

Meu filme nacional favorito do ano não é O Som ao Redor, não é São Silvestre, não é Minha Mãe É uma Peça. É ELENA Os atores convidados, no vídeo promocional, provocam: “Você não ia querer conhecer a Elena. Ia?” Ia, sim, pois a Elena é uma daquelas pessoas que é simplesmente interessante. É uma daquelas pessoas dotada de bruta sensibilidade, coisa que, não vamos tapar o sol com a peneira, via de regra acaba lhes causando mais mal que bem. E então, o doloroso exercício de Petra Costa, de resgatar as pegadas da irmã que foi tentar a vida como artista em Nova York. Acho que o mais interessante a respeito do documentário é o modo como Petra vai construindo a narrativa. Tudo é envolvido numa névoa, numa atmosfera de mistério, desde a vida em família, a infância das duas irmãs. Porque a vida é um pouco isso. Essa incerteza, essa falta de saber o que será, até certo ponto, antes da instalação de todo o fatalismo. A infância é assim. Depois, as deambulações nova iorquinas, as agruras de Elena, os encontros com o passado. Mas não havia predestinação aí. No princípio, eram apenas duas menininhas que brincavam de cantar e dançar, e se apresentar, e fazer de conta que são artistas, como, às vezes, até os adultos fazem. Depois, veio a vida.

Um espelho para dentro e nós mesmo

Por Marcelo Rodrigues – blog Mais do Mesmo – 27/12/13

Acabo de assistir á “Elena” documentário de Petra Costa sobre sua irmã Elena Andrade e ainda estou em transe, me faltam palavras para definir o que acabei de assistir mas enquanto eu remonto o filme na minha cabeça eu vou ao menos tentar defini-lo.

Primeiro Petra você foi de uma coragem absurda ao remontar o seu passado, foi um exercício de superação extremo que eu não sei se eu seria capaz. Só pela sua coragem Petra você já merece elogios.

Mas “Elena” é mais. Enquanto filme “Elena” é um resgate e uma descoberta. Um resgate pra você enquanto Irmã e diretora e uma descoberta pra você enquanto Irmã e para nós espectadores.

A forma como você abre o seu baú de memórias no documentário convertendo-o á material fílmico é fascinante. Mais fascinante ainda é a maneira como você mantêm o espectador inerte a essa história (por essa inércia e por esse êxtase encontro dificuldades de “remontar” o filme na minha mente nessa hora em que escrevo as minhas impressões sobre o filme.

Petra você coloca o espectador em um “salto no escuro” do seu poderoso baú de memórias sobre Elena ou será sobre você mesma. Tem momentos em que a persona de uma se misturam e eu realmente acredito que contar a história de Elena você está contando sua própria historia de vida também.

Sobre o “Salto no escuro”, sua narrativa fílmica evolui de forma imperceptível desse modo, o espectador perde a noção do tempo e do espaço fílmico e quer saber? Pouco importa pois quando nós aceitamos embarcar nessa viagem de conhecimento sobre essa figura mítica que é Elena sabíamos que seria uma viagem indescritível só que eu não imaginava que iria mergulhar numa viagem dentro de mim mesmo.

“Elena” é um filme de sonhos e sobre a trajetória da sua protagonista Elena Andrade, uma jovem determinada cheia de sonhos. É também um filme sobre duas irmãs que se conectam pela força dos laços que as une através de uma viagem.

Sabe Petra, eu também tenho o sonho de me tornar ator. Ator e Cineasta assim como você. Estudei interpretação na infância e adolescência e entrei na faculdade de Cinema para melhorar as minhas críticas e atuar nas produções da faculdade. Acabei me apaixonando pela arte cinematográfica como um todo. Mas como Elena eu estou sempre em busca de MAIS e com a mesma determinação que a da sua querida irmã eu tenho certeza que vou conseguir.

Assim como você Petra também uma viagem que me conectou novamente a minha irmã Roberta que eu amo de paixão por tudo mas principalmente pela garra dela assim como eu tenho certeza que você amava sua querida irmã Elena também pela determinação dela.

Desculpe ficar falando de mim na crítica do seu filme Petra, mas acontece que “Elena” me proporcionou uma experiência como um espelho pra dentro de mim mesmo. É isso, essa é a definição para o seu filme: “Elena” é um espelho pra dentro da sua história e pra dentro de nós mesmos.

Eu só tenho a agradecer Petra pelo seu filme belíssimo, pela transformação que ele me provocou , pela sua generosidade em partilhar sua história conosco. Seu filme foi á faísca de coragem que me faltava para também contar a minha história.

Um filme com Alma

Por Anônimo – Poesias de Cinema – 22/12/2013

O que faz um filme nos tocar?

Eu que sou descrente de religião, acredito como Tarkovski, que uma obra de arte tem que ter Alma, uma necessidade espiritual em existir.

A técnica, a fotografia, a linguagem estética escolhida, são como roupas: embelezam, iluminam, mas se tornam obsoletas, envelhecem e passam.

“Elena” de Petra Costa é um filme com Alma, uma expressão de amor, cada lágrima triste que se solta, é divina.
A vida só vale se for com arte.

Do íntimo para o universal

Por Marília TassoPitada de Cinema – 18/12/2013

“Elena” dirigido por Petra Costa é um documentário que ganhou muitos elogios, teve ótima repercussão e foi bem recebido pelo público. A história é narrada por Petra, irmã de Elena, que tenta resgatá-la por meio de arquivos, fitas cassete, vídeos e cartas, ao longo descobrimos a intensa relação que havia entre as duas, mesmo com a grande diferença de idade.

Elena nasce num período complicado: a ditadura militar, e vive muitos anos na clandestinidade com seus pais. Após treze anos nasce Petra, que sempre incentivada por Elena cantava, dançava e atuava. Era nítida a veia artística de Elena, cuja foi herdada de sua mãe que sonhava em ser atriz de cinema. A necessidade de colocar sua arte para fora aconteceu quando seus pais se separaram, começou a estudar e fazer teatro, mas ela desejava mais, e em busca de um grande sonho vai para Nova York. Faz testes, audições e mesmo com todo seu talento para dança, canto e música não tem respostas. Desolada volta para o Brasil. Toda essa arte que o documentário explora e que existe em Elena a deixa melancólica e frustrada. Ela constantemente dizia: “Se não posso fazer arte, prefiro morrer”. Mais tarde Elena volta para lá com sua mãe e irmã, porém nada muda, cada vez mais angustiada por não conseguir realizar seu sonho, se torna dura consigo mesma, e a menina que um dia descobriu que podia fazer a lua dançar, se fechou para o mundo. Ela foi sendo tomada por um imenso vazio, uma tristeza que já não podia carregar e mesmo com sua pouca idade, estava desistindo de tudo.

Tanto a mãe, como a irmã não entendia de fato o que ocorria com ela, e de certa forma depois do suicídio a culpa as tomou completamente. Lembranças as perseguiam, como num dia que Petra estava com uma amiga em sua casa mostrando os cômodos, e quando chegou no quarto de Elena, a menina perguntou o que ela tinha, pois estava toda coberta com os olhos distantes, e Petra respondeu: “Ela é assim”, ou quando a mãe ouviu Elena chorando desesperadamente e não foi lá perguntar nada. Conviver com este tipo de sofrimento é angustiante, e se eu fizesse, e se eu tivesse, e se… É um verdadeiro pesadelo que acaba com a vida de qualquer um.

É necessário expor a dor sentida, se possível compartilhá-la, pois é uma maneira de se libertar e seguir em frente. O que Petra fez com este documentário foi exatamente isso, ela compartilhou a sua dor, e principalmente a transformou. “Elena” é um documentário extremamente lírico e pessoal, mas que conversa com nossas dores e saudades.

Em meio a tantos elogios, há também a visão de que o documentário seja presunçoso e egocêntrico, claro, sempre há diversas maneiras de se enxergar algo, mas é de grande importância que uma obra tão intimista como “Elena” tenha chegado ao grande público. E mesmo que trate de uma pessoa, o interessante é que nos permite pensar em nossos próprios sonhos não realizados, na insatisfação com a vida, a solidão, e o peso que se carrega por isso.

Como não se emocionar na parte em que o laudo de Elena aparece na tela dizendo que seu coração pesava 300 gramas? Nesse momento lembrei da seguinte frase que ela escreveu: “Meu coração está tão triste que eu me sinto no direito de não perambular mais por aí com esse corpo que ocupa espaço e esmaga mais o que eu tenho de tão… tão frágil.”

Vemos anos mais tarde um período drástico na vida de Petra, quando decide qual carreira seguir, ela escolhe estudar teatro, assim como Elena, então passa a tentar entender o motivo de sua escolha e entra numa luta interna tentando se desvencilhar da imagem da irmã, que por vezes se confundia com a dela. A doce cena da dança na água reflete o deixar ir. “As dores viram água, e pouco a pouco viram memória”.

É sem dúvida um filme melancólico, mas completamente libertador. A frase de Petra no final resume tudo: “Você é a minha memória inconsolável, feita de pedra e sombra. E é dela que tudo nasce, e dança.” Elena deixou de ser dor e tristeza para se tornar inspiração.

ELENA: carta-filme in memoriam

Resenha da conversação sobre o filme “Elena” [i] por André Lopes [ii] – 12/12/2013

Fugi. De repente, eu vi que não podia mais, me governou um desgosto. Não sei se era porque eu reprovava aquilo: de se ir, com tanta maioria e largueza, matando e perdendo gente, na constante brutalidade. (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas)

No dia cinco de dezembro de 2013, após a exibição do filme “Elena”, na DG-GO/DF, ao sabor de muita pipoca, iniciamos uma conversação com as falas de Ordália Junqueira [iii] e Ruskaya Maia [iv]. Ambas marcadas pelas singularidades de seus olhares sobre o tão instigante filme. A de Ordália, dentre algumas marcas, iniciou pontuando a clandestinidade em que Elena nasceu, um nascer clandestino, mas ao mesmo tempo salvacionista, na visão da mãe, tendo como estofo a negativa dessa mãe melancólica: Você fará qualquer coisa, menos ir para Nova York, menos ser atriz, falou a mãe.

Ordália atenta para a separação dos pais, aos quinze anos de Elena, fato que colabora, na leitura de sua irmã Petra, para o distanciamento de Elena: Para de brincar de teatro comigo para virar atriz de verdade. Alguns andaimes se desmoronam para Petra e quando faz sete anos é informada pela irmã que essa é a pior idade. Após esse “pior” Ordália pontua a crença de Petra nas Sereias, figura mítica devoradora de homens e que sempre entoam belos cânticos.

Um aspecto significativo na fala de Ordália foi a associação do filme a uma carta de amor (de Petra para a irmã Elena), que ela nomeia de “carta-filme” que traz o tema do suicídio como central: … Eu quero morrer. Razão? São tantas que seria ridículo mencioná-las… Petra, em um certo momento pergunta: Se ela me convence que a vida não vale a pena, tenho que morrer com ela. Para que serve esse filme?

Além do nascer clandestino e da negativa da mãe melancólica Ordália também sublinhou a perda de identidade e o tom próprio de Petra em ser o objeto de uma Outra Mulher, a irmã na qual se afogava. Ordália destaca em sua fala o que realmente está em cena: a encenação de Petra da morte da irmã para encontrar ar. Em meio a essa “em-cenação” brota, mesmo de raízes frouxas, uma memória inconsolável de Petra e o seu rompimento com a série familiar fracasso/morte iniciada com a melancolia da mãe. Ordália indaga: quem seria, entre as três mulheres, a personagem principal do filme, e “belisca”: o pai se encontra “em-câmera”, por trás das cenas, há um não dito, há um não mostrado: o pai. Afinal há UM… ou pior?

Em seguida, Ruskaya Maya, mesmo sentindo a falta de um cineasta na conversa, apontou uma impressão forte do filme: a “maldição”. Ruskaya (a) borda o filme como um “texto” tal qual sua escuta no consultório. Tal qual o sujeito amaldiçoado, pelos significantes do Outro, que chega à análise, Ruskaya lê Elena assim. Em sua fala, Elena-Petra (essa locução subjetiva) é amaldiçoada pela fala oracular da mãe: Não vá para Nova Iorque ser atriz! Em outra leitura, Ruskaya nos traz também algo da alienação e da separação marcadamente própria do feminino e de suas dificuldades tais como a errância e a falta de lugar enodadas à melancolia como a doença do narcisismo.

Em sua fala Ruskaya atenta para o uso do corpo como imagem, a dança. Primeiro a dança com a Lua, depois consigo mesma. Para Ruskaya, Elena fere o seu narcisismo em sua não aceitação, paralela a alienação de Petra como objeto da irmã que pouco fala. Ruskaya enlaça sua leitura do filme com o que Freud considera como a estratégia primitiva do luto: a alienação, apresentada como a incorporação de Petra do espectro de sua irmã, o gozo do corpo como real, um não saber o que fazer com o corpo.

O desejo de Petra se confundir com a irmã em um espaço esmagador marcado por buracos anteriores também é lido por Ruskaya. O que resta após a morte de Elena, são os sintomas obsessivos da irmã, que até então estava associada imaginariamente a Elena. Finalmente Elena morre, sua morte simbólica, para Ruskaya que lê o filme como uma segunda morte. Seria esse filme uma morte real?

Após as duas falas abriu-se o debate com o público atento. O que se pode registrar desse debate foi que o objetivo de Petra ao produzir o filme está sendo alcançado em cada canto do Brasil. Elena não conseguiu brilhar nos palcos em vida, mas Petra tem conseguido através da arte, do cinema endereçar sua carta de amor a irmã, sua carta-filme in memoriam.

Iniciamos essa resenha, com Guimarães Rosa: Fugi. De repente, eu vi que não podia mais, me governou um desgosto […]. Agora finalizamos com Petra Costa que, com uma leveza poética, conseguiu transformar um tema tão brutal como o suicídio em algo novo: […] Me afogo em você, enceno a nossa Morte… Para encontrar ar… Para poder viver […] As memórias vão com o tempo, se desfazem, mas algumas não encontram consolo, só alívio nas pequenas brechas da poesia. Você é minha memória inconsolável, feita de pedra e de sombra e é dela que tudo nasce e dança…

Não saímos dançando, mas uma sensação de falta ficou no ar. Falta do desgosto, falta da brutalidade, mesmo perdendo Elena… Onde está Elena?

Revisado por Ordália A. Junqueira.

[i] Filme de Petra Costa, exibido na DG-GO/DF-EBP, em 05/12/2013, como Evento de Biblioteca da DG-GO/DF-EBP. Resenha feita a duas mãos por André Lopes e Ordália A. Junqueira.
[ii] André Lopes, poeta, professor de literatura, participante da DG-GO/DF.
[iii] Ordália A. Junqueira, Aderente da EBP, Analista Praticante (AP), Participante da DG-GO/DF.
[iv] Ruskaya Maia, Membro da EBP, Analista Praticante (AP), Participante da DG-GO/DF.

ELENA: um turbilhão de emoções e memórias

Por Hadassah Sorvillo – blog Senhorita Inconstante – 12/12/2013

Finalmente assisti ao documentário Elena! Desde antes do lançamento eu já acompanhava a Petra e o projeto, e depois de várias tentativas frustradas de assistir no cinema acabei vendo o doc no conforto do meu quarto, que de certa maneira foi o encaixe perfeito.

E mesmo com a espera Elena não me decepcionou um segundo sequer. Para mim ele foi um dos melhores filmes do ano.

Petra conseguiu transformar uma tragédia familiar, pessoal e doída em algo tão lindo e poético. Corajosa. Abriu suas recordações e trouxe Elena para o lugar que sempre sonhou estar, nas telas do cinema. Elena mexeu muito comigo, cada sentimento, cada dúvida e sonho são de uma delicadeza ímpar. Seria assustador se não fosse tão perfeitamente sincronizado. Assistir ao filme é ter um turbilhão de emoções e memórias ativadas e ao final, sentir-se leve. A água e os movimentos dançante característicos do longa te embalam nessa história triste, mas tão bela ao mesmo tempo. Elena me mostrou muito sobre o amor, arte, e as frustrações, que são inevitáveis na vida.

Indico um milhão de vezes! Elena é pura poesia.

A trilha sonora também é muito boa! Minha faixa favorita é a Valsa pra Lua. Dê o play e viaje também. Poderia passar o dia dançando ao som desse piano, e vocês?

Inundamentos nas imagens dançantes de Elena

Por Weynna Dóri – blog Os fazedores: Uma aproximação às poéticas contemporâneas – 15/11/2013

Ao começar a escrever sobre um filme, recolhia na atmosfera palavras soltas, que me ocorriam enquanto eu assistia o filme. Seriam insights? De fato transfiguravam como revelações urgentes que precisavam ser ditas ainda com a influencia do “calor do momento”, na frescura da experiência… A construção dos textos sempre eram como uma escultura descuidadamente criada com essas palavras afetadas (afetos) que minha mente disparava de forma aleatória, e que cabia a mim estruturar e dar sentido. Eram, sentimentos, sensações, desejos e figuras verbais que juntas, compunham uma arriscada posição, que chamara de “crítica”.

Há algum tempo, com as leituras de Rancière sobre “a fábula cinematográfica”, os conceitos novos que perturbaram minha cabeça, após a descoberta do manisfesto Knok escrito por Dziga Vertov, em defesa do seu cinema-verdade… Fui violentamente sacudida sobre as noções de cinema que havia encontrado em Benjamin no seu ensaio sobre A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica, no qual já vislumbrava o poder de perspetiva do cinema, mas ainda restringindo-o a uma operação que técnica e seus aspectos representativos e perceptivos.

Revendo o olhar em relação ao que chamava de “crítica cinematográfica”, ou seja, um olhar a cerca do cinema enquanto objeto de arte que pensa. Punha em dúvida um exercício que era como uma terapia. Falar sobre filmes sempre seria um prazer, e com incentivo, fui conduzida e desafiada a por no papel inerte ideias em movimento, em fluxo constante como as imagens que me instigavam e inspiravam nas telas. Queria compartilhar das inúmeras questões que me inquietavam naquelas obras, queria instigar os outros a ver o que eu via, e mostrar-lhes como via. Queria tornar “material” de pesquisa a experiência de ver um bom filme e de pensar a partir dele. Se não o achasse bom, queria entender o porque disso, e falar a respeito desses aspectos que considerava “menor” comparado a outros que poderia identificar como suficientes para que o filme fosse visto, ainda assim. Não queria apenas dar minha “opinião” sobre… Mas ainda não conseguia dizer do que se tratava aquela proposta de me expor na escrita com um filme, por na internet para que todos pudessem ler e insistir na ideia de que um filme não era só um filme. Que o cinema é “a arte moderna por excelência”, como diria Rancière, e dela um campo enorme de possibilidades de pensamento se abria.

A escolha dos filmes dos quais falar, era uma exposição pessoal, e contudo, uma posição estética. Temáticas como escrita, perversões, sofrimento, loucura, sexo, morte, vida, arte… chamavam a atenção por serem fortes, densas, intensas e puras, no sentido de que atingiam por provocarem algo passível a qualquer ser humano que é capaz de se inquietar, e talvez por serem potências capazes de romper com as categorias romantizadas, já tão debatidas no universo do cinema, tão ou mais humanas quanto os clichés que nos faziam verter lágrimas injustificáveis. Essas temáticas, ditas polêmicas, perturbam e muitas vezes provocam repulsa, angustia, desconforto, afronta contrária a identificação comum nos espectadores, parecendo mais fantasiosas ou “falsas”, elas por vezes perfuram a película que separa a ficção de quem a vê, talvez pelo simples fato de serem obscenas.

Saber que é um filme, que é criação ficcional, que muitas vezes é produto de uma industria milionária, que é encenado, que é entretenimento… E mesmo enxergando essa distância e talvez exatamente por enxergar ela, ainda assim, não sair incólume da experiência de ver um filme. Isso me intrigava. Talvez por esse motivo os documentários me atraiam mais. Como sempre foram considerados filmes de reflexão, detentores de uma formula mais próxima da realidade, não seria tão absurdo levar esses filmes tão a “sério”. Não sei se essa seria a justificativa para escolher esse gênero. Mas de fato, na arte do documentário encontro um campo de flutuação sensível, que possibilita uma proliferação de sentidos novos para se pensar a vida, o mundo, o homem… Me inquietava entender como esse homem se enxerga nessa relação, na qual se vê atravessado por potências do mundo? Como sente o mundo em si, diante de tudo que um filme suscita?

Voltando a experiência da escrita com o filme, confesso que meu modelo de criação crítica não conseguiu efeitos ao se encontrar com a experiência poética de Elena (2012). O polêmico documentário produzido no Brasil, dirigido pela estreante em longa metragens, a até então atriz e agora diretora Petra Costa. Inicialmente Petra propõe construir toda uma narrativa que desse conta de solucionar o enigma: Quem é Elena? Após reconstruir a memória da atriz Elena Costa, sua própria irmã, que comete suicídio aos 20 anos de idade, Petra se mistura as lembranças e cria uma confusão entre as duas. Os desdobramentos que essa tragédia provocou na família, mais especificamente na diretora, são a matéria prima para construção de um filme documentário que emudece, paralisa, afoga qualquer formula já estabelecida de escrita crítica com um filme. Primeiro, porque talvez o próprio filme não segue as formulas técnicas pautadas por uma tradição do cinema documental; depois, porque ignora a linha tênue entre ficção e realidade, enquanto trata de um assunto particular e obsceno, perverte a lógica da representação, fazendo a realidade ainda mais nua e crua.

Ao sair do cinema, após Elena, só se consegue pensar em recuperar o fôlego provocado pelo inundamento que seu corpo sofre na imersão do filme. A sala de cinema aos poucos vai se tornando como uma espécie de aquário, seu corpo permanece submerso em um universo líquido, fluido e sensível de imagens que se movimentam projetadas entre ar e água. Num corpo-filme que nos mantem paralisados diante de suas imagens dançantes.

Durante meses fui incapaz de escrever uma uma palavra sobre o que havia sido essa experiência estética única. Porque antes era necessário tentar entender que aspectos são esses que inundaram o corpo-filme, ao ponto de provocar novas formas de dizer, de ver, de ouvir, de fazer e de ser, que experimentavam algo indizível e invisível  no contato com o filme.

Distanciando-se da forma representativa criada pelo imaginário social confortável, Elena abre espaço para a movimentação da palavra, do sons, das imagens, para a dimensão do afeto.

Encontro no filme documentário Elena, essa superfície liquida e complexa que propõe possibilidades distintas no campo de flutuação da experiência sensível. Que imagina a palavra e poetisa a imagem, provoca o afeto e nos instiga a pensar sobre imagens e palavras, cinema e poesia, realidade e ficção, a inércia do papel/tela e o movimento do mundo, tempo e espaço… Ou seja, pensar a vida como esse fluido que nos envolve, que nos compõe e ao mesmo tempo nos afoga. Elena e suas imagens dançantes nos propõe um respiro nessas águas, um fôlego de vida, que se cria desses dissensos, algo que ainda não está dado, que anseia por vir.

Como testemunhar a dor da perda, a ausência, o vazio da morte? A diretora incorpora todos esses sentimentos, para dar a ver o obsceno, o que não se fala, ou pouco se fala, mas quase nunca se mostra, arrastando pela fissura da arte, um sensível que escorre para um dizível, enquanto nos deixa às margens do visível: forçando a passagem e desconfortando a imagem representação, trazendo à superfície um fôlego para se pensar o mundo, experiências de vida e percepções através da construção ficcional do cinema documentário.

Dando voz a um “outro” dentro de si, a diretora/personagem esgota através do testemunho e do resgate de lembranças, a dor e a impossibilidade de lidar com a morte. Criando possibilidades novas de vida quando põe imagens, palavras e a técnica cinematográfica para dançar.

Tudo começa na atmosfera onírica das rememorações de um sonho, em que Petra vê sua irmã enroscada num emaranhado de fios elétricos mas quando se dá por si, percebe que é ela mesma que está lá, de onde cai e morre… Essa confusão entre as identidades das duas é a partícula que enuncia o filme, como numa carta onde Petra afunda num rio de memórias, numa busca particular, reconstituindo sua vida e encenando sua própria morte, realiza o sonho da mãe e da irmã de fazer cinema, e ao mesmo tempo transforma o filme numa ressurreição da sua irmã e a sua própria. Para a partir daí ganharem vidas independentes.

Elena é uma “memória inconsolável”, na qual a diretora Petra mergulha, a fim de encontrar a si própria. Movida por memórias submersas em dor, ausência e saudade, nos convida, ou melhor, nos arremessa, num turbilhão de imagens, que inunda nossos pulmões delicadamente ao ponto de nos afogar violentamente num rio de sensações. Por fim, nos faz emergir à poética sublime, ainda simples e intimista que perpassa os limites da representação, enquanto ao mesmo tempo se desfaz dessa lógica. O que permite dar a ver o mundo a partir do espelho d’água da memória e com ele afundar, decantar e, contudo, encontrar ar puro.

A construção do filme não poderia ser outra, que não audiovisual. A pesar da ideia de Petra partir da descoberta de um diário escrito por Elena na adolescência, quando sofria dos mesmos problemas existenciais que ela passava no momento, e na mesma idade. Os vestígios são imagens, palavras e sons em projeção a vida, dos quais provavelmente a linguagem heterogênea do cinema seria a única, talvez, capaz de dar conta de resignificar o tanto de elementos e aspectos subjetivos, também dado ao privilégio da experiência coletiva que ele proporciona.

O cinema documental, por ser esse “corpo”, que pulsa e canaliza em suas veias; signos, em fluxo constante, ora fluido, ora denso e que segundo o filósofo Jacques Rancière: “Joga com a combinação de diferentes tipos de rastros (entrevistas, rostos significativos, documento de arquivo, trechos de filmes documentários e de ficção etc.) para propor possibilidades de pensar” uma vida que não conhece histórias por se tratar de situações abertas em infinitas direções, e não propõe ou orientam fins, mas um movimento continuo feito de uma infinidade de micromovimentos.

São memórias represadas que confluam na criação de uma narrativa própria, fluida que nos carrega pela correnteza de imagens: fotografias sonoras, marcadas por uma voz que confunde e inebria, quando misturadas a gravações de fita cassete e uma espécie de reverberação de ecos numa concha do mar; visuais, dilatando nossas pupilas para receber a luz do óbvio em forma sensível, como se acabássemos de sair de um abismo. Em outros momentos marejando a íris das lentes, capaz de nos embaçar a visão diante da paralisia do encontro com as cenas.

Elena é composto de poesia imagética, que encontra na arte uma fissura na qual as imagens contam, soam, enganam, encantam e provocam o presente, e ainda articulam novos porvires.

A mistura de texturas da fotografia granulada dos vídeos caseiros, desfoques de câmera na mão, as luzes dos faróis, o reflexo do sol na água ofuscando nossa visão, entrevistas em super close, são elementos que inicialmente assumem para o filme uma postura clássica da linguagem documental, reunindo num trabalho belíssimo de montagem imagens de arquivo de jornal, fotografias antigas, reconstruindo memória. Mas aos poucos transfigura para uma poética autoral, aproximando-se de nós ao ponto de agredir o real, que nas palavras do próprio Ranciére “precisa ser ficcionado para ser pensado”. Enquanto a câmera, se mostrando sempre presente, onde, não só registra sua impressão muda, mas também atua como personagem, apresentando a nós espectadores os fatos e formas de pensamento decorrente da confusão desses fatos que com a manipulação ganham potências significantemente novas.

O filme traz uma ligação forte com o dançar: a escolha pela câmera na mão nos conduz por um movimento que vai além dos fotogramas correndo pelo tempo. Porque é um movimento orgânico e múltiplo que mistura o fazer filmar, o fluxo da vida, a natureza que pulsa, no tempo e no espaço, que tanto nos sustenta no ar, quanto nos faz flutuar nas águas. Permitindo uma leveza de movimentos puros, que à técnica e a linguagem documentária “definem variações das intensidades sensíveis, das percepções e capacidade dos corpos. Assim se apropriam dos humanos quaisquer, cavam distâncias, abrem derivações, modificam as maneiras, as velocidades e os trajetos segundo os quais aderem a uma condição, reagem a situações, reconhecem suas imagens”, explica Rancière.

O ato estético dessa câmera-olho faz sentir a intensidade do mundo, enquanto transbordam da fragilidade das mãos imagens que precisam dançar para existir. Como se a potência de dizer dessas imagens precisasse sair do plano estável do visível apenas, para ser passível de movimento, mesmo que não saindo do lugar (tela). Numa corrente que ora puxa para o fundo da realidade, ora joga nas margens, e não tardando muito é devolvida à aleatoriedade das águas e boia descoordenada. E dessa dança das imagens que a poesia de Elena transborda, e enquanto poesia não deve mais que prestar contas com o que seria da ordem da verdade dos fatos ou dos enunciados narrativos, já que a poesia se apresenta como um arranjo determinado dos signos da linguagem cinematográfica. Não separando linguagem de realidade, mas usando dela para atravessar a materialidade do mundo, e ainda da técnica “sob a forma muda das coisas e da linguagem cifrada das imagens”.

Viagem interior

Por Marcia Amado Bessa, no blog Cabine Cultural – 14/11/2013

Difícil entrar em uma sala de cinema para assistir ao documentário Elena, direção e atuação de Petra Costa, e não se emocionar, ou se derreter em prantos. Com coleção de imagens impactantes, o filme aborda as relações emocionais entre três mulheres, as duas irmãs Elena e Petra e sua mãe, com uma leveza poética de beleza ímpar, o filme entranha em nosso íntimo de tal forma, que ficamos a relembrar Elena e a voz de Petra numa só pessoa, como uma força cósmica que nos impulsiona para uma viagem interior.

Ao viajar para Nova York aos 20 anos de idade, Elena segue seu sonho de ser atriz de cinema e deixa no Brasil sua irmã Petra, com 7 anos de idade. Duas décadas depois Petra embarca para Nova York em busca de respostas sobre sua irmã, com narrativa na 1ª. pessoa, como um depoimento através de memórias de infância, diários, cartas, filmes caseiros. O desejo de Petra é percorrer e seguir os passos de sua irmã, e tem sua mãe como grande aliada.

Este filme é o primeiro longa metragem de Petra Costa, e o que se observa é uma busca por alguém que sofria de depressão e que ela deseja conhecer mais profundamente com seu amor inabalável, tipo Kármico.

Um filme sobre crises existenciais, perdas, fronteiras entre a vida e a morte, colocado com coragem e determinação, mostrando que os ganhos também fazem parte da vida, como as próprias lembranças da autora, como uma afirmação de quanto a vida é bela. Elena e Petra, fundidas numa só, irmã, diretora, atriz, uma não existiria sem a outra. Elena é uma memória viva dentro de Petra, palavras trocadas em vida real, como um redemoinho de emoções, a ausência tornando-se afinal uma doce presença. Como a própria Petra diz em entrevista, “a arte ajudou a curar a minha dor”.

O filme é de um lirismo único, faz-nos chorar sem sentir o choro na face, Elena misteriosa, transcendental, sombria, sedutora, extasiante, enfim, uma verdadeira obra prima que arrebata o expectador.

Petra Costa é diretora do curta metragem Olhos de Ressaca, ganhando prêmios em 2009, e agora retorna com este longa vencedor do premio de Melhor Documentário no Festival de Brasília 2012.

Na confusão de identidade dessas 3 mulheres, Petra vai atrás da sua própria identidade e descobre-se um espelho para sua própria alma, permitindo-nos sentir o mesmo gosto de perda e ganho que a vida traz. A cena na água impressiona, demonstrando que o filme é universal e pertence a todos nós, uma maneira de se afogar nos sentimentos, desejos e sensações.

Saímos do cinema lembrando da Elena a dançar como uma versão artística dos sentimentos de Petra, uma metáfora para a liberdade.

Este é realmente imperdível!!! Neste dia prepare-se para conhecer Elena e Petra, diretora e protagonista de suas vidas ao mesmo tempo, e que afinal encontramos essas memórias de alguma forma dentro de nós.

Elena não está disponível para todos

Por Alice Corrêa – Blog Conexão Campista – 7 de novembro de 2013

Quem é Elena? Essa pergunta tomou conta da cabeça de milhares de pessoas nos últimos meses, e ainda toma de muitas que não tiveram a oportunidade de descobrir, pois Elena não está disponível para todos. Está confuso? Espera que eu vou explicar…

Elena é uma mulher sonhadora, que deseja seguir os passos da mãe. Ela viaja para Nova York para ser atriz de cinema, deixando sua irmã Petra, de 7 anos aqui no Brasil. Petra também segue o árduo sonho de ser atriz. Quando consegue, segue em busca de sua irmã na selva de pedra com poucos artefatos para encontrá-la: Recortes de papel, diários e filmes caseiros! Segundo sinopses, críticas e resenhas, Petra encontra Elena em um lugar totalmente inesperado; depois de um tempo já não sabe mais quem é Petra quem é Elena. Após uma história emocionante de amor, Petra tem que deixa Elena partir.

Parece confusamente interessante, não é? Dá uma vontade enorme de descobrir, enfim, quem é Elena!

Estou me tratando de um filme, que já ganhou muitos prêmios e diversos elogios de revistas, jornais, blogs e afins. Mas Elena é para poucos! Não está disponível em todos os cinemas, só em alguns selecionados. Ao sair de cartaz em um, entra em outro… Desperta um interesse inexplicável de descobri-la, mas teremos que esperar a autora do filme Petra Costa decidir se vai ou não para a sua cidade. Acho que você percebeu. Sim, Petra Costa é a Petra do longa metragem e isso dá um ar real e mais emocionante junto de uma vontade tentadora de assisti-lo.

As outras obras de Petra também a deram muitos prêmios, muitos elogios, segundo algumas revistas, Petra traz verdade e uma intensidade verdadeira e única em suas obras. Uma delas é Olhos de Ressaca, onde o foco são os olhos mais atraentes do Brasil: Os de Capitu, de Machado de Assis.

Um luto poético e curioso. Se Elena já chegou na sua cidade, corre pra ver e conta pra gente o que achou e QUEM É ELENA! Juro que quero muito descobrir!