De volta a sala escura

Zeca Camargo – blog do G1 – 13/5/2013

Mortalha Reflorida

Ricardo Daehn- Correio Braziliense – 17/5/2013

O ato extremo

Michel Laub - Folha de São Paulo – 10/5/2013

Um adeus e uma saudade

Por Carolina Pessôa – Blog Cultura na pauta – 5/7/2014

Como falar da dor de perder uma pessoa querida? E como enfrentar a realidade das circunstâncias que levaram a esse desfecho? A atriz e cineasta Petra Costa se aventurou nesse desafio e simplesmente produziu um dos mais marcantes documentários brasileiros. Como disse o cineasta Walter Salles: “ELENA é uma das experiências mais agudas e dilacerantes que já vivi no cinema. De uma beleza incomum, o filme fica entranhado em nós por um longo tempo”.

Entranhado em mim desde que vi o filme ano passado, segui com essa lembrança pelo tempo, até que novamente assisti ao longa, que me despertou novas questões, ideias, reflexões. Acima de tudo, considero a iniciativa de fazer esse documentário um ato de fé: fé na vida, na arte, e de que, como já disse o documentarista João Moreira Salles, “é preciso continuar vivendo”.

Por meio de imagens poéticas, narrativa íntima, trilha sonora tocante, Petra Costa narra a tentativa de encontrar sua irmã, para enfim conseguir deixá-la partir. Um labirinto de memórias é construído, e cada peça desse quebra-cabeça é fundamental para tentar entender a trajetória da jovem Elena, da jovem Petra, e de tantos nós com histórias familiares que tangenciam em diferentes pontos a trama deste filme.

Poeticamente, Petra desperta em nós a sua história, e evoca a nossa história, o que pode acontecer a qualquer um de nós – “morrer e tentar renascer todos os dias”.

Falar de Elena é urgente!

Por Silvio Torres – Blog Lavra Palavra – 3/7/2014

ELENA é um filme brasileiro de 2012, dirigido por Petra Costa e produzido pela Busca Vida Filmes. É um ensaio poético filmografico baseado na vida da atriz Elena Andrade, irmã mais velha de Petra, diretora do filme.

Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho da mãe: ser atriz de cinema. Deixa para trás uma infância passada na clandestinidade dos anos de ditadura militar no  Brasil e deixa Petra, a irmã de sete anos. Duas décadas mais tarde, Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena.

Petra tem apenas pistas da irmã: filmes caseiros, recortes de jornal, diários e cartas. A todo momento Petra espera encontrar Elena caminhando pelas ruas com uma blusa e seda. Pega o trem que Elena pegou, bate na porta de seus amigos, percorre seus caminhos e acaba descobrindo Elena em um lugar inesperado.

Aos poucos, os traços das duas irmãs se confundem, já não se sabe quem é uma, quem é a outra. A mãe pressente. Petra decifra. Agora que finalmente encontrou Elena, Petra precisa deixá-la partir.

A despedida no passado, entre Elena e a cineasta Petra, sua irmã, veio na forma de um presente singelo: uma concha do mar.

“Quando você sentir saudade, encoste a concha no seu ouvido e assim a gente pode se falar”, disse a irmã, Elena, 13 anos mais velha.

Petra, de apenas 7,  na ocasião, escutaria muitas vezes aquela concha nas semanas que se seguiriam.

Meses, anos, duas décadas se passaram. Petra já era atriz e cineasta quando voltou a Nova York à procura de Elena, decidida a filmar a saudade.

Elena é um filme sobre a persistência dessas lembranças, a irreversibilidade da perda, o impacto causado na menina de 7 anos pela ausência da irmã, a quem Petra chama de sua “memória inconsolável”.

“Pouco a pouco, as dores viram água, viram memória”, diz a diretora, a um só tempo atriz e personagem.

Elena é, também, um filme sobre a aventura de crescer, uma história de três mulheres que dialoga sobre temas como família, maternidade, dor e superação. É, ainda, um filme sobre o Brasil pós-ditadura militar, sobre a geração que nasceu clandestina e cresceu entre os anos 1970 e 1980, com o desafio de batalhar por seus sonhos em tempos de abertura e esperança.

O cineasta Eduardo Escorel, da revista Piauí, recebeu bem o filme, sustentando que “a narrativa complexa e delicada de Elena flui de forma harmoniosa, articulando com maestria materiais heterogêneos, sem se tornar lúgubre”.

Luiz Zanin, d’O Estado de S. Paulo, considerou o filme “emocionante”, ponderando que o filme é uma “reflexão sobre a função da memória”, enquanto Roberto Guerra, do Cineclick, considerou Elena “carregado de lirismo e poesia”.

A memória da dor

Por  Álvaro – blog Meia Entrada – 25/6/2014

ELENA é um filme sobre a morte. Sobre a morte e um de seus legados: a memória. A realizadora Petra Costa retrabalha as memórias que tem da irmã Elena através do filme, das imagens em movimento que, de certa forma, são uma espécie de ressurreição do corpo morto. E é, sobretudo, na potência das imagens de arquivo que o corpo de Elena volta à vida.

ELENA eclipsa arquivos e encenação. Pouca coisa é mais genuína do que os arquivos em que Petra e Elena dançam. Mas, afinal, por que arquivar imagens de corpos que dançam? Porque há vida neles, oras! Não é esta a beleza da imagem em movimento? As imagens de arquivo apontam para isso, sobre esses corpos que, naqueles registros das danças, contrariam a morte com mais força e mais verdade do que a imagem encenada do corpo que permanece vivo – Petra flutuando sobre água. Esses momentos em que Petra flutua buscam e conseguem ser poéticos, mas nenhuma poesia se equipara àquela gerada pela junção das imagens de arquivo. O corpo de Petra como autora/atriz só é tão forte quanto o corpo de Petra arquivo em um único momento: nos planos em que ela vaga aparentemente aflita por Nova Iorque e se confunde com o corpo-memória de Elena.

A narração da realizadora vem para corroborar esse conflito da poesia: a voz over oscila entre o essencial e excessivo. É indispensável para a amarração da narrativa e genuína na maior parte do tempo, mas às vezes erra por parecer não confiar na potência dos arquivos. Acaba por sufocar um pouco o filme.

Mas, ao se debruçar sobre a morte, ELENA é, sobretudo, um filme cruel. Uma crueldade que parte da autora para com si própria ao resgatar um tempo de sofrimento, mas que vai além quando Petra interpela a mãe sobre suas memórias. Há uma cena singular nesse sentido: aquela no apartamento em Nova Iorque em que a mãe rememora o momento em que encontrara a filha morta. A câmera faz uma panorâmica pelo espaço enquanto a mãe de Petra e Elena narra. De repente, uma pausa e um suspiro. E a voz retorna embargada. A pausa e o respirar sofrido que a segue certamente são mais impactantes do que todo o discurso que se desenrola. É o momento em que ELENA para de captar a memória da morte e passa a captar a memória da dor.

ELENA é, por fim, um filme de erros. Se entrega à excessos ao desconfiar da própria poesia contida em suas imagens e, por vezes, se descontrola em sua abordagem, principalmente no que diz respeito a esse enfrentamento entre a realizadora e a mãe. Este texto pode ter dado a impressão de que é um filme desprezível. Pelo contrário: é tão pessoal que se debate com um trauma entre erros e acertos. É como os primeiros garranchos de uma criança em processo de alfabetização: há uma tentativa de capricho, de manter a letra arredonda entre as linhas, mas a emoção, o sentimento em torno daquilo é tão grande que extravasa. Ao se digladiar com a memória da morte, ELENA erra e é justamente o que o torna um filme tão vivo.

Notas de Psicanálise e Cinema: Elena

Por Leonardo Della Pasqua – psicólogo – 15/6/2014

O suicídio tem um efeito trágico nas famílias. A dor é difícil de elaborar. Os sentimentos são confusos, misturados. Reina a perplexidade. Culpa, raiva, tristeza e recriminação são comuns. É possível ocorrer um identificação com o suicida. Algo difícil de modificarmos. O tempo e a distância nem sempre são amigos nessas horas. Às vezes, perpetuam o sofrimento.

Inúmeras perguntas e fantasias aparecem: E se não o tivesse deixado sozinho? E se não tivesse sentido tanta raiva? Onde foi que errei? Que culpa tenho pela sua morte? O que poderia ter feito? Por que ela e não eu? Por que continuar vivendo?

Albert Camus inicia o seu “Mito de Sísifo” afirmando: “ existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia“. Mesmo que eu quisesse esquecer dessa afirmação, existem pacientes que me recordam dela constantemente. Desejam de mim argumentos e motivações para não colocarem em ato seus pensamentos auto-destrutivos. Exige que eu esteja muito atento ao discurso deles, sem diminuir ou menosprezar o que me comunicam. O descuido pode ser fatal! A responsabilidade é enorme.

Alguns fatores de risco devem ser levados em consideração. São verdadeiros sinais de alerta! Sujeitos com doenças mentais estão mais expostos ao suicídio. Psicoses, depressões severas, neuroses graves e dependência química estão entre os quadros mais associados ao problema. Perdas recentes, dinâmica familiar conturbada, reações a datas importantes, personalidades impulsivas e agressivas dificultam ao sujeito o enfrentamento das adversidades da vida. Fazem com que se questionem se não é melhor dar um fim a ela. A questão de Camus ganha corpo nessas condições.

A identificação com o morto faz ruir as ilusões da existência. A diretora Petra Costa encontrou um modo poético de lidar com o suicídio da irmã. No filme ELENA (2012), Petra expõe na tela toda a tragédia de sua família em lidar com a morte da personagem que leva o título da obra. Vemos as fantasias edípicas que seu suicídio desperta. Assistimos a perplexidade do pai, que não consegue falar sobre o assunto. Vemos mãe e filha sobreviventes reviverem a situação, mergulhando completamente nela. Inevitável não se misturar ao mundo subjetivo de Elena. São Ofélias que sobreviveram à tragédia shakesperiana. Inundam-se no seu universo simbólico, para depois poderem se diferenciar.

Petra inicia o filme nos contando um sonho com Elena, que também foi atriz e partiu para Nova York, para realizar um desejo que fora de sua mãe. No sonho, ela se perde nos personagens. Não esconde do público as confusões, desilusões e traumas que dividiu com a irmã. Mostrando sua história, descobre um modo plástico de representação da sua dor. Cria uma iconografia cinematográfica singular no mundo dos documentários. Afeta sensivelmente quem assiste a sua obra. É difícil tirar um filme desses da mente. É preciso de tempo para digeri-lo. Um tempo que vale a pena ser vivido!

Nova York e um problema silencioso

Por Isabel Fleck – Blog NY Posts – Folha de S. Paulo – 31 de maio de 2014
Difícil estar em Nova York e não se sentir um pouco Elena, a atriz que chegou, aos 20 anos, sozinha e cheia de sonhos nesta cidade tão fascinante quanto opressora.

Ao assistir o filme homônimo, feito por sua irmã, Petra Costa, você encontra tudo lá: as luzes, os carros, as sirenes, o mar de gente que te atropela. A solidão em meio à multidão. Nada tão diferente de outras grandes cidades pelo mundo, mas nada tão Nova York.

A primeira válvula de escape de Elena foi uma espécie de diário gravado: mensagens de voz para enviar à família no Brasil. Nelas, ficaram registrados momentos de certeza e outros de total confusão, lampejos de euforia com a cidade e desabafos de dias bem ruins.

Elena, tão jovem, não aguentaria, meses depois, a montanha-russa de sentimentos e a cobrança extrema, sua e dos outros. E o desfecho dessa história, infelizmente, está longe de ser uma exceção.

Os últimos dados sobre suicídio na cidade mostram que os casos superam os de homicídio. A média de 475 mortes desse tipo por ano é maior que os cerca de 400 assassinatos registrados em 2012 em Nova York. Em todo o país, 40.000 suicídios foram registrados em 2013.

Proporcionalmente à população, o índice de NY não é tão superior ao de outras metrópoles, como São Paulo: cerca de 6 por cada 100.000 habitantes, contra 5,4 (segundo dados de pesquisa da USP publicada em 2012).

Isso, contudo, não deixa os números daqui menos assustadores. O problema existe, é silencioso e agravado pela solidão de quem vem tentar a vida na cidade –seja na Broadway, em Wall Street ou no mercado da esquina.

Seria leviano –e, obviamente, incorreto– afirmar que Nova York determina tal destino, mas ela certamente se encarrega de garantir que o caminho do “sucesso” tenha um número suficiente de obstáculos.

Para Petra, Nova York teve sim o seu peso no processo doloroso pelo qual passou a irmã. Tanto que, nos painéis de debate que seguirão a estreia de “Elena” (leia a matéria aqui), nesta sexta-feira (30), na cidade, promoverá um sobre “Solidão na Nova York delirante”, no dia 4, no IFC, com a participação de Affonso Gonçalves, da equipe de “Indomável Sonhadora”.

“É uma cidade que ou você consegue, ou a sua autoestima se destrói”, disse. “Você se sente, como artista, facilmente descartável aqui, porque tudo já tem muito.”

O ator e cineasta Tim Robbins, de “Sobre Meninos e Lobos”, hoje produtor-executivo do “Elena” nos EUA, também não superou a cidade tão facilmente no começo.

“Eu lembro de me sentir ‘menos que zero’ em Nova York”, diz, no vídeo de divulgação do filme. “Quando você é um artista e abre sua alma e o seu coração, se desnuda perante as pessoas, [NY] é um lugar muito sensível para se estar.”

A dança do ser

Por Tamiris Moraes – site Punctum – 30 de maio de 2014

Sonhei com Elena essa noite. Sonhei assim como Petra Costa, diretora do filme, sonha com sua irmã. Porque Elena, pra mim, é mais do que o retrato de um encontro entre duas irmãs, da procura da irmã mais nova pela irmã que perdeu, e as consequências de tal perda na vida da diretora. A procura de Elena dentro e fora de Petra. s; é o desejo de viver de arte e para arte. Elena é vida. A vida e todas suas complexidades que trazem as Elenas para o ser de Elena e para o meu ser. As Elenas que dançam, choram, riem e se desesperam querendo gritar. As Elenas em pedaços, os pedaços que me formam.

Perco-me na busca do retrato da mineira, Elena, feito pela irmã. Perco-me nos seus sonhos, frustrações, felicidades e tristezas. Perco-me no ser humano que foi, que é Elena, no ser que eu também sou. Encontro-me durante alguns instantes do filme, mas, logo em seguida, volto a me perder. Os desejos de ser de cada pessoa, o meu desejo de ser e os tropeços durante essa dança do ser. Os tropeços da dança da vida. A dança que me faz tropeçar no meio do filme, no meio das imagens que me levam a lugares que não consigo (e não quero) descrever. Lugares particulares onde posso ser e não ser, onde posso conduzir essa dança da vida. Eu só consigo expor que nesses lugares existiam tropeços, mas não importava o fato de eu tropeçar, importava que eu conseguia conduzir os passos ao meu ritmo. As imagens de Elena despertam em mim, não apenas uma, mas várias danças que se repetem e desaparecem.

O retrato feito sobre a vida de Elena por Petra é simples e poético. É nessa simplicidade, talvez, que está o fato de causar tantas sensações diversas. A simplicidade em mostrar um ser humano com todos os seus desejos e problemas. O ser humano como ser humano, e não criado como uma imagem quase perfeita. O ser humano na sua fraqueza, no desistir no meio da dança da vida. A interrupção da dança, porque os passos estavam presos e pesados, Elena não conseguia guiar a dança e tropeçava cada vez mais. E num desses tropeços, por não conseguir conduzir, ela decide interromper os passos, o ritmo.

Elena é poesia em imagem. Cada instante do filme é uma sensação que o nosso corpo, o nosso ser sente. Em “Elena”, me perdi e me encontrei. Em “Elena” sonhei, chorei, me frustrei, me senti feliz e triste. Em Elena senti. Desfaço-me em mil pedaços e desses pedaços sou formada.

*Tamiris é graduanda do Curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Um grito, um alívio

Por Kika Contijo – Blog Kika Contijo – 29 de maio de 2014

Foi preciso muita coragem. Logo em seu primeiro longa, a diretora Petra Costa, conta com sensibilidade o luto, a dor e a saudade da irmã, Elena.

Elena, moça alegre, cheia de vida e sonhos, suicidou-se em NY, aos 21 anos, quando a irmã Petra tinha apenas 7.

O filme, cheio de vídeos das irmãs e o comovente depoimento da mãe das meninas, é forte, doloroso e lindo. Como uma carta, que Petra escreve à irmã. Um grito … um alívio para algo que ela bem sabe que não tem alivio. Através do filme, Petra busca se reconciliar consigo mesma e seguir em frente. Talvez um acerto de contas com sua irmã e com sua própria vida, ousando enxergar a si mesma como realmente é, não fantasiando sobre algum dia superar a morte de Elena, mas compreendendo como essa morte a moldou e fazendo o possível para viver o melhor que pode com quem ela é, aceitando-se por completo e por isso mesmo encontrando certa paz.

Quando foi lançado, em 2013 no Brasil, o filme ganhou vários prêmios. A sempre sisuda New Yorker, rasgou longos elogios ao longa: ´´Belo, melancólico, atual, denso.

Vale muito a pena assistir.

Alegria, dor e encanto

Gabriele Santos – Vício Diário – 29/5/2014

Sinopse: Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho da mãe: ser atriz de cinema. Deixa para trás uma infância passada na clandestinidade dos anos de ditadura militar e deixa Petra, a irmã de 7 anos. Duas décadas mais tarde, Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena. Tem apenas pistas: filmes caseiros, recortes de jornal, diários e cartas. A todo momento Petra espera encontrar Elena caminhando pelas ruas com uma blusa de seda. Pega o trem que Elena pegou, bate na porta de seus amigos, percorre seus caminhos e acaba descobrindo Elena em um lugar inesperado. Aos poucos, os traços das duas irmãs se confundem, já não se sabe quem é uma, quem é a outra. A mãe pressente. Petra decifra. Agora que finalmente encontrou Elena, Petra precisa deixá-la partir.

“Pouco a pouco as dores viram água, viram memória. As memórias vão com o tempo, se desfazem. Mas algumas não encontram conforto, só algum alívio nas pequenas brechas da poesia. Você é a minha memória inconsolável, feita de pedra e de sombra. E é dela que tudo nasce e dança.”

Eu li a primeira vez sobre este filme no facebook e fiquei encantada com a proposta, e depois de assistir ao trailer foi puro amor e mais desejo de conhecer a história de Elena.

ELENA é um filme/documentário lançado em 2012, dirigido por Petra Costa. Ele conta a história da atriz Elena Andrade, irmã de Petra. Aos dezessete anos Petra encontra os diários da irmã e várias horas de filmes caseiros que ela escrevera e filmara ao longo da sua vida.

Elena tinha treze anos quando ganhou uma câmera de filmagem e Petra, sua irmã. Quando adolescente, ela criava cenas e dirigia a pequena Petra em suas atuações. Por cinco anos ela integrou as maiores companhias de teatro de São Paulo, fez alguns testes mas nunca foi chamada. No inicio dos anos 90, com vinte anos, ela se muda para Nova York para estudar artes cênicas e batalhar uma chance no mercado americano. Como forma de manter a família informada sobre sua vida, ao invés de escrever cartas, ela faz alguns vídeos. No novo mundo Elena se encontra ansiosa para viver seus sonhos, mas se descobre deslocada e frustrada após alguns testes sem sucesso. Muito decepcionada com a falta de reconhecimento e abatida por uma depressão que se agravava cada vez mais, ela se suicida no segundo semestre. Petra tinha sete anos. Depois de vinte anos é ela quem retorna aNova York para refazer os passos da irmã, tentar de alguma reencontrá-la. E a encontra, onde jamais poderia imaginar. ELENAé filme belíssimo sobre saudade, perda mas sobre reencontro. É sobre legado e memória.

“Será que a minha raiz vai conseguir arrebentar asfaltos, canos e prédios pra sobreviver e gerar frutos? Sim, se minha raiz fosse forte, grande, mas sinto que a minha semente nem chegou a brotar direito ainda. Então, provavelmente em uma cidade, ela se brotasse, miúda e doente viveria.”

O filme é todo narrado pela voz de Petra, e começa contando a vida da família a partir da adolescência da mãe das meninas. Como ela também queria ser atriz e desistiu deste sonho para viver uma aventura com seu grande amor lutando contra a Ditadura Militar. Com as filmagens caseiras de Elena, Petra segue narrando a adolescência da irmã, o seu nascimento e a viagem a Nova York. Em um momento do filme, a mãe passa a ter participação efetiva contando como foi viajar para Nova York com Petra para ficar com Elena, e como foi vê-la definhar aos poucos até encontrá-la sem vida dentro de casa.

O que mais encanta no filme é o tom poético e as imagens que seguem o mesmo ritmo. A cada momento você é tocado de uma forma distinta. São emoções que se misturam entre alegria, dor e encanto.

Eu falei com minha professora de Cinema da faculdade e ela disse que é um bom filme, mas peca no final porque é como se Petra se tornasse egoísta e tomasse o filme para si. Como uma narscisista, ela teria colocado Elena de lado para, enfim, ressair. Fiquei pensando sobre isso, re-assisti ao filme e definitivamente discordei. Ao meu entender o filme é sobre duas irmãs. A Elena de Petra, e a Petra de Elena. Petra refaz os passos de Elena e a reencontra nela mesma. É como se, de alguma forma, Elena vivesse dentro dela. É a memória dela que permanece viva, seja pelas cartas, diários e vídeos que ela deixara, ou pelas poucas lembrança do tempo que conviveram.

“Eu quero morrer. Razão? Tantas que seria ridículo mencioná-las. Eu desisto, desisto porque meu coração tá tão triste que eu sinto achar-me no direito de não perambular por aí com esse corpo que ocupa espaço e esmaga mais o que eu tenho de tão, tão frágil.”

Quando Petra decide fazer vestibular e coloca como opção o mesmo curso de Elena, é como se a irmã renascesse nela. Não apenas na memória, mas dentro dela. Petra passa pelos mesmos sentimentos da irmã antes de morrer: cansaço, dor, tristeza. Para não pôr fim a própria vida, ela decide encenar a sua morte. Não somente a dela, mas a de Elena também, pois somente assim ela poderá conviver com os sentimentos de estar se transformando na irmã.

“Se ela me convence que a vida não vale a pena, eu tenho que morrer com ela”

Na medida em que refaz os mesmos passos de Elena, percorre as ruas de Nova York, assiste seus vídeos e lê seus diários, Petra entende que sua irmã está morta e o que ela tem são apenas lembranças. Petra aprende a se conformar a assumir seu próprio papel em seu filme, e, acima de tudo, ela entende os motivos que fizeram Elena partir.

ELENA: documentário que mexe com seu juízo e surpreende

Por Alex – Blog Quer Pipoca? ‎- 23 de maio de 2014

Foi no repente que resolvi assistir este documentário. A convite de um amigo, e com a possibilidade de ser aquela a última sessão do filme em cartaz na cidade, fui conferir. Meu crescente interesse por documentários (recentemente potencializado pela maratona que fiz com alguns dos indicados ao Oscar deste ano, e com crítica aqui no Quer Pipoca?) só deu mais gás à experiência toda com este longa brasileiro. E que experiência.

Dolorido como só o ato de ‘dar adeus’ aqueles que se vão, este filme consegue, de forma inesperada e criativa, contar o relato de uma jovem (Petra, diretora do filme) sobre a ida da irmã mais velha para Nova York, onde foi estudar teatro. Já no início, ela cita uma das frases de sua mãe, que comenta que elas podem ir a qualquer cidade, menos Nova York, e ter qualquer profissão, menos ser atriz.

Assim, a diretora faz uso de lembranças de sua memória, vídeos caseiros, dramatizações, entrevistas reais, fotos e música para, aos poucos, ir revelando mais sobre a vida da irmã, e tentar, camada por camada, entender quem ela foi, para si mesma e para o mundo. Sair desse documentário sem a cabeça rodando é difícil, tamanha a carga emocional mostrada em cada cena, por vezes, nos colocando no ponto de vista da irmã mais nova, relembrando, em loopings constantes da mais velha dançando, da própria história, da saudade e lidando, por vezes superando, o luto.

Inesperado pensar que entrei para ver um documentário, preparado para quaisquer formato já esperado: entrevista, voice overs, câmera na mão, acompanhamento silencioso em terceira pessoa, ou qualquer sistema de se contar uma história real. O que Petra consegue é subverter esses modelos, mesclar suas formas, aproximar-se de outras linhas narrativas, como a do incrível ‘Man on Wire’ (2008), alcançando um diferente patamar de longa metragem, em que sabe-se que o que está na tela são fatos reais, mas transportados para o filme como um sonho/lembrança difícil de apagar.

Desafie-se, querido pipoqueiro, à esta experiência inesquecível. Ela pode ser capaz de resgatar, assim como a diretora do filme, algumas memórias que estão guardadas em algum lugar aí dentro, que só quando emergem, conseguem, de fato, voar para longe.

POÉTICO E PESSOAL, ELENA FOI O DOCUMENTÁRIO MAIS VISTO NO BRASIL EM 2013

Por 2001 Indica – 20 de maio de 2014


Narrado em primeira pessoa, o poético ELENA conquistou o público com sua proposta intimista, calcada nas reminiscências da diretora e atriz Petra Costa. Lançado pelo Instituto Moreira Salles, esse belo documentário-memória sai em DVD com inúmeros extras mais livretos.

Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho da mãe: ser atriz de cinema. Deixa para trás uma infância passada na clandestinidade dos anos de ditadura militar e deixa Petra, a irmã de 7 anos. Duas décadas mais tarde, Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena.

Tem apenas pistas: filmes caseiros, recortes de jornal, diários e cartas. A todo momento Petra espera encontrar Elena caminhando pelas ruas com uma blusa de seda. Pega o trem que Elena pegou, bate na porta de seus amigos, percorre seus caminhos e acaba descobrindo Elena em um lugar inesperado.

Aos poucos, os traços das duas irmãs se confundem, já não se sabe quem é uma, quem é a outra. A mãe pressente. Petra decifra. Agora que finalmente encontrou Elena, Petra precisa deixá-la partir. E nada melhor do que reconstituir o passado é recriá-lo no presente: “Elena”, o filme, é a resposta.

Com mais de 57 mil espectadores, “Elena” foi o documentário mais visto nos cinemas brasileiros no primeiro semestre de 2013, segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine). E, recentemente, integrou a seleção Sesc Melhores Filmes.